Da frequência de museus aos concertos, portugueses privilegiam eventos que não envolvem esforço financeiro.
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Sinal da fragilidade económica de uma boa parte da população ou um hábito atávico que resiste às mudanças sociais, o consumo cultural ou informativo em Portugal continua muito dependente do caráter gratuito das atividades.
Essa tendência faz-se sentir a vários níveis nas Estatísticas da Cultura 2022, agora publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No consumo informativo, por exemplo, o estudo indica que a circulação gratuita de jornais representou perto de 59% do total, ascendendo a 80% nas revistas.
Na frequência de museus, os dados também são esclarecedores - dos 15,8 milhões de entradas, 48% referiram-se a turistas estrangeiros, com os portugueses a mostrarem uma clara preferência pelo acesso aos museus nos dias em que as entradas são gratuitas (aos domingos).
Na lista dos cinco museus e espaços históricos portugueses mais visitados, é notório o peso dos que têm uma forte componente turística, como são os casos do Palácio Nacional da Pena, Museu dos Clérigos ou o Tesouro da Sé Catedral do Porto, que no seu conjunto receberam mais de quatro milhões e meio de visitantes.
Nas áreas do espetáculo, as borlas assumem uma posição ainda mais dominante. Apesar de o estudo não apresentar ainda os números de 2022, uma análise dos dados da década anterior revela que o total de bilhetes vendidos esteve sempre aquém dos oferecidos, com exceção de 2020, ano muito marcado pela pandemia. Os números totais entre 2011 e 2021 indicam que foram vendidos um pouco mais de seis milhões e 600 mil bilhetes, menos um milhão e meio do que as entradas oferecidas.
Por regiões, o estudo revela que a Área Metropolitana de Lisboa é a única em que o acesso aos espetáculos menos depende das ofertas. O número de bilhetes vendidos (dois milhões e 900 mil) é mais do dobro dos oferecidos. Quanto menos densamente povoada é a região, maior é o peso das borlas, indica o relatório. Essa tendência assume a expressão máxima no Alentejo, onde foram oferecidos 710 mil bilhetes para espetáculos e vendidos apenas 133 mil.
Mais espectadores
Antes da razia provocada pela covid-19, que se fez sentir em particular nos anos de 2020 e 2021, o setor dos espetáculos mais do que duplicou o volume de negócios, passando de 55 milhões de euros em 2011 para 125 milhões oito anos volvidos. Curiosamente, esse crescimento foi alcançado mais pela via do aumento de espectadores do que através da subida dos preços. De acordo com as Estatísticas da Cultura, o preço médio dos bilhetes passou de 16,3 euros em 2011 para 14,2 uma década depois, embora tal se venha ficado a dever aos efeitos da pandemia, uma vez que em 2019 o preço média era de 20,8 euros.