O som de "OBG", terceiro álbum do produtor, compositor e DJ português, é uniformemente encorpado.
Corpo do artigo
O terceiro álbum de João Barbosa, aliás Branko, anuncia-se como transportado por "texturas orgânicas e ritmos convidativos". O que se ouve rima com a promessa.
"OBG" começa com doçura graças a "SRA", um entardecer radioso embalado por um sopro de kuduro suave, que estabelece uma conversa com o sample de uma voz de mulher que parece entoar uma cantiga de embalar vinda da profundeza do granito de uma aldeia do interior português. Uma conversa que constrói bastante convincentes pontes tecnológicas, culturais, temporais. (O kuduro, com mel e eletrónica, nunca desaparece por inteiro no horizonte do álbum - é retomado, por exemplo, com um incremento de velocidade em "ABR".)
Há neste álbum múltiplos e gratos banhos para a alma sob a forma, por exemplo, de aproximações às estéticas cintilantes, fluidas e sensuais de alguma da música de dança mais entusiasmante feita por estes dias no continente africano, os cúmplices afro house e amapiano. Assim é com "AUX", em parceria com a produtora Ms Mavy, de raízes espalhadas por França, Guadalupe e Camarões. Idem para "ETA", com o seu mosaico de vozes e a participação do produtor português Fumaxa. E para a tocante "CTG", banhada a ouro e aroma a África contemporânea, com um reforço das percussões trazido por Iúri Oliveira.
Mas também pode ter a forma do cuidado rendilhado rítmico que Branko tece em "ADRT". Ou imaginar-se uma encarnação de Sade numa pista de dança (talvez uma esplanada num litoral seja mais adequado) em 2022 graças a "NAFÉ", o único tema do álbum com uma voz em primeiro plano, a da cabo-verdiana ÉLLÀH, ou Ellah Barbosa. O trio final de faixas aprofunda ainda mais os graves, pisa um nada no acelerador e lança-se na noite: "SDDS" é curvilíneo e possui uma fina guitarra voadora; "VDD" fica na antecâmara do transe; "OOO" são luzes de néon, braços no ar, kuduro no chão.
O som de "OBG" é uniformemente encorpado. Um abraço feito de sol, água, terra. É o melhor registo no caminho ilustre de Branko.