“20.000 espécies de abelhas”, filme da espanhola Estibaliz Urresola Solaguren, estreia esta quinta-feira e fala-nos de família e de identidade de género. Jovem atriz protagonista venceu prémio em Berlim.
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O cinema espanhol sobreviveu ao exílio e ao desaparecimento de Buñuel, foi espelho da famosa “movida” com Almodóvar e tem-se mostrado diverso e capaz de conquistar a crítica e seduzir o seu público.
Uma das suas características é ainda a identidade regional, podendo quase falar-se de uma “cinematografia” catalã ou galega. Não ainda tão visível, o cinema basco mostra-se agora com “20.000 espécies de abelhas”, primeira longa-metragem da realizadora Estibaliz Urresola Solaguren e que chega esta quinta-feira aos cinemas após a auspiciosa estreia no Festival de Berlim, onde conquistou o prémio de interpretação, agora único e sem género definido, atribuído à jovem Sofia Otero.
Apesar de a jovem ser mesmo muito jovem – tinha nove anos duranet a rodagem do filme – e por isso não se saber ainda se será uma aposta numa futura atriz ou se se tratou de uma experiência ocasional e sem continuidade, o prémio era esperado.
Na realidade, Sofia Otero interpreta o papel de uma garota que, numas férias de verão que partilha com mulheres de várias gerações da sua família, mostra não estar confortável com a identidade de género que lhe atribuem.
A relação com a mãe a e “transformação” que a família se vê obrigada a empreender, é um dos grandes sujeitos do filme. Sem tirar mérito à prestação de Otero, era um papel à medida deste prémio.
Se o tema é claramente um dos que balizam os critérios de seleção de projetos a apoiar e de filmes a selecionar nos festivais que se realizam numa boa parte do mundo, onde a discussão é possível, a verdade é que a realizadora basca nunca dá mostras de qualquer militantismo ou de seguir caminhos já percorridos.
“20.000 espécies de abelhas” é um filme impressionista na sua abordagem visual, inteligente na forma como tece as suas várias camadas, colocando mais perguntas do que as respostas que dá e que se entronca, como o título deixa antever, numa visão naturalista do mundo, onde os seres humanos, como as abelhas, são cada qual uma espécie, com as suas contradições, as suas angústias, desejos e ambições. Por isso, seja qual for o seu género, é um filme para si.