Noa desfilará, com o seu violino, no trio elétrico em Salvador ao lado do guitarrista brasileiro Armandinho Macedo, parceiro num tema novo. Artista vai lançar também uma tour para celebrar 10 anos de carreira discográfica com uma coletânea especial.
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Por estes dias, Noa anda numa roda-viva: parte esta terça-feira (dia 25 de fevereiro) para o Brasil, mais concretamente para Salvador da Bahia, onde vai ser participar no famoso trio elétrico, um camião gigantesco que percorre as ruas da cidade durante o Carnaval chamando foliões e espalhando música.
No veículo, estará com Armandinho Macedo, criador da guitarra baiana e um dos filhos de Osmar Macedo, inventor com Dodô (Adolfo Nascimento), há 75 anos, do primeiro trio elétrico, para apresentar o tema “Quero-te te perto de mim”. Esta música foi feita em parceria com aquele reputado guitarrista, destacando-se a mestria com que a artista portuguesa lida com violino, instrumento sempre presente nos seus trabalhos e atuações.
Os músicos vão gravar o videoclipe do tema - que faz parte da coletânea “Saudade” que marca uma década de trajetória artística de Noa e que tem três temas inéditos -, na icónica igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador. A ideia, diz ao JN a cantora, pretende ser o reforço da união entre as duas culturas. Daí ter convidado a artista plástica Celeste Ferreira para pintar um longo vestido branco e o violino com cores que pretendem ser um símbolo dessa ligação.
“Saudade é um termo profundamente lusófono ligado à emoção da nostalgia do futuro”, considera Noa, com 42 anos, natural de Mafamude, Vila Nova de Gaia e batizada com o nome Lia.
Raízes na Amazónia
Esta não é a primeira vez que a artista, que tem raízes indígenas na Amazónia, é convidada para estar no Brasil a mostrar o seu trabalho. Em 2022, participou na FLIX (Festa Literária Internacional do Xingu) em Altamira, Pará, como autora dos seus dois livros infantis “O Mundo da Luzinha”.
Numa mesa redonda com outros autores e professores universitários apresentou as razões para este projeto, nascido após ter sido mãe de Luz, hoje com cinco anos, e que mostra que o uso da música facilita a formação de crianças. Agora, prepara mais livros com a mesma temática.
Antes, em 2018, num investimento profissional, Noa esteve em Salvador, Bahia, e acabou por gravar com Luiz Caldas, autor da banda sonora da telenovela “Tieta”, e quis conhecer a Amazónia, terra da sua tetravó e que a inspirou a fazer um trabalho com o mesmo nome. “Senti-me em casa”, confessa.
Poesia nas veias
Desde sempre, Noa mostrou gosto pelo mundo artístico. Com seis anos, começou a ter aulas de ballet (“tinha as pernas tortas”) e a música do piano que acompanhava os exercícios despertou-lhe a vontade de tocar um instrumento. “Queria aprender harpa, mas a minha mãe deu-me a escolher: ou a harpa ou o sofá. Escolhi o violino e comecei a ter aulas na Academia de Música de Vilar do Paraíso [Gaia]”, conta.
Nessa altura já gostava de escrever poesia, gosto que a acompanha até hoje e que será mais visível no seu primeiro álbum “As coisas boas”. Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto estudou Literatura Portuguesa e percorreu, à noite, muitos lugares de diversão a cantar com o violino. Faz agora um doutoramento sobre Chico Buarque. Também leciona Português a estrangeiros. Porém, foi aos 27 anos, “com um desgosto de amor” e com uma composição de seu pai, guitarrista, que surgiu o seu primeiro tema com um poema escrito num “rolo de papel higiénico”: “Baixar o Pano”.
Roupa a duas
Não é só no mundo do espetáculo que Noa encontra inspiração. As indumentárias para shows televisivos e ao vivo são fruto de uma parceria com a costureira Conceição Leite, com ateliê em Santo Tirso. Aliás, as roupas que vai usar, este Carnaval, no trio elétrico de Salvador da Bahia são fruto de um trabalho a duas cabeças de que a artista guarda segredo.
Os vestidos são usados pela cantora uma só vez e depois colocados à venda numa página do Instagram, um negócio que “corre muito bem”. Também a roupa da filha Luz é vendida na mesma rede social, juntamente com os livros que produziu.
Os dias da artista começam com idas ao ginásio depois de levar a filha a escola. Quando não pode, faz caminhadas perto de casa, em Gaia. As noites de quarta-feira são dedicadas ao restaurante da mãe, no Porto, “Taberna do Cais das Pedras”, onde canta e onde põe clientes a cantar. Dá aulas de violino e é assistente na Faculdade de Letras do Porto. Dona de um sorriso contagiante, salienta que precisa de dormir “oito a nove horas” para estar pronta aos desafios do quotidiano. E continua com aulas de canto.
Ficar no Mundo
E o que quer para o futuro a mulher batizada Lia e se tornou Noa para a vida artística? “Ser alguém do Mundo. Ser mais reconhecida como cantora, como instrumentista, como poetisa, como palestrante. É para isso que trabalhei, foi por isso que vi a minha carreira subir de forma consistente. Estes 10 anos discográficos serão celebrados durante o ano com espectáculos pelo país e, espero, junto de circuitos internacionais. Esta tour marcará um ciclo novo”.