Bruxelas quer UE em sintonia sobre reforço da Defesa a começar por "muro de drones"
A Comissão Europeia pediu aos países da União identifiquem as carências militares que têm, para poder reforçar as capacidades através de "coligações de Estados-membros", começando pelo "muro de drones" no flanco leste.
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De acordo com um documento enviado hoje pela Comissão Europeia a cada Estado-membro, que apresenta um cronograma sobre a prontidão da União Europeia (UE) na área da defesa, estão identificadas "nove áreas de capacidades críticas" que têm de ser reforçadas: mísseis e defesa antiaérea, mobilidade militar, sistemas de artilharia, guerra cibernética e com inteligência artificial, drones (aeronaves pilotadas remotamente) e combate terrestre e marítimo.
A diretoria-geral militar da UE, que faz parte do Serviço de Ação Externa, está a fazer um apanhado das capacidades militares de cada Estado-membro e dos objetivos de investimento que ponderaram, que "inclui as áreas de capacidades prioritárias e que tem em conta os desígnios da Organização do Tratado do Atlântico Norte [para os países que integram a Aliança Atlântica] e as necessidades da Ucrânia".
Este apanhado vai ser "integrado na Revisão Anual de Defesa Coordenada preparada pela Agência de Defesa Europeia e atualizada anualmente", para assegurar que "há uma relação entre a análise das carências de capacidades militares e as prioridades" nesta área.
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A Comissão Europeia também propõe que os países do bloco político-económico europeu criem "coligações de capacidades coletivas", que serão encabeçadas por um dos países que as compõem e criar "projetos colaborativos", por exemplo, de reforço da indústria militar e aquisição de equipamentos.
Vai ser criada uma "Força de Prontidão de Defesa", um grupo informal para apoiar estas coligações.
O executivo comunitário também vai lançar três prioridades para este investimento conjunto em prol da segurança europeia, a começar pelo já anunciado "muro de drones", uma parede artificial de drones que patrulharão o flanco leste, ou seja, os países que estão mais próximos da Rússia, com o objetivo de impedir imediatamente incursões do espaço aéreo da UE, como as que ocorreram nas últimas semanas na Polónia, Roménia e Dinamarca.
Aproveitando a "experiência da Ucrânia", que há mais de três anos está a tentar repelir uma invasão da Rússia ao seu território e que muitas vezes se manifesta em bombardeamentos e ataques com drones, a UE quer aumentar a produção destas aeronaves e fazê-lo em escala, com "desenvolvimento tecnológico contínuo".
"Isto vai requerer uma abordagem em rede, em que as startups, a academia, as indústrias de defesa já estabelecidas e os governos trabalhem em conjunto, facilitando este esforço com uma estrutura de financiamento simples", dá conta o documento da Comissão Europeia.
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O "muro de drones" também "deve ser adaptável e interoperável para ajudar a resolver coletivamente outras ameaças, nomeadamente a resposta a desastres naturais, migrações irregulares e crime organizado transacional, com centros operativos por toda a Europa a trabalhar de maneira integrada".
Este documento é apresentado dois dias antes de uma cimeira informal de líderes em Copenhaga, no âmbito da presidência dinamarquesa do Conselho da UE, e de uma reunião da Comunidade Política Europeia, também na capital da Dinamarca, respetivamente na quarta e quinta-feiras.
As duas reuniões coincidem com um momento decisivo para as discussões sobre o apoio contínuo que a UE presta à Ucrânia, já que as perspetivas de um cessar-fogo no verão se esfumaram face à continuidade dos ataques de Moscovo e aparente falta de interesse do Kremlin em negociar.
Zelensky propõe criação de escudo
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também propôs hoje aos parceiros da NATO a criação de um escudo para deter as "ameaças aéreas" de Moscovo, em resposta à recente intrusão de drones e caças russos no território de alguns deles.
"A Rússia está a testar as vossas capacidades", declarou. "A Ucrânia pode combater todos os tipos de drones e mísseis russos e, se atuarmos em conjunto na região, teremos armamento e capacidade de produção suficientes. Se a Rússia perder a capacidade de atacar os céus, não poderá continuar a guerra e terá de encontrar outras formas de coexistir", argumentou.
Moscovo "está a provar até onde pode chegar, quer desviar a atenção da brutal guerra na Ucrânia", advertiu o chefe de Estado ucraniano, participando por videoconferência num fórum sobre segurança realizado na capital polaca, Varsóvia.
Zelensky mencionou os recentes incidentes em que 19 aeronaves não-tripuladas russas sobrevoaram ilegalmente o espaço aéreo polaco e aviões de combate russos procederam a uma intrusão semelhante em território estónio.
"Quase todas as ameaças à segurança da Europa vêm atualmente da Rússia", observou.