"A Incrível História de Henry Sugar", nomeada para o Oscar de Melhor Curta-metragem, é uma proposta desconcertante e desafiadora.
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Para as gerações que já entraram na idade adulta, esperar semanas ou meses pela estreia dos filmes nomeados ou vencedores dos Oscars era habitual.
Hoje em dia, a mudança de paradigma não podia ser mais evidente, uma vez que as obras nomeadas não só estreiam antecipadamente, como muitas vezes o fazem já no pequeno ecrã, estando neste momento disponíveis no streaming, para além de filmes nomeados, películas que concorrem a categorias que dantes passavam despercebidas.
Era o caso das curtas-metragens que, segundo os critérios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, não podem exceder "40 minutos, incluindo os créditos". É o que acontece, mesmo no limite, dados os seus 39 minutos, com "A Incrível História de Henry Sugar", assinada por Wes Anderson, veterano já com meia dúzia de nomeações no currículo.
Adaptação de um conto do escritor galês Roald Dahl (1916-1990), o mesmo que escreveu o conto que deu origem a "Charlie e a Fábrica de Chocolate" e que surge aqui como narrador inicial (interpretado por Ralph Fiennes), começa por surpreender pela sua construção. Enquanto decorre, vamos assistindo ao construir e desmontar de cenários, muitas vezes ao ritmo da passagem dos atores, somos surpreendidos pela revelação de alguns truques do cinema, como é o caso da "levitação" do sábio indiano, e são várias as ocasiões em que aderecistas entram em cena para entregar ou levar objectos.
Não satisfeito com estas provocações, Anderson pôs os atores a utilizar um tom quase declamatório, em ritmo vivo e quase não pausado, para além de muitas vezes dizerem também as indicações cenográficas e olharem claramente para a câmara.
Dessa forma, consegue acentuar o tom já de si intrigante da história original, que aborda o caso de um homem, o Henry Sugar do título, que se tornou capaz de ver de olhos fechados, seguindo os ensinamentos de um velho sábio indiano.
A história é narrada alternadamente em tom pessoal ou descritivo, a variedade de cenários é limitada ao mínimo indispensável e estes são assumidamente não realistas, assumindo o todo um carácter semi-experimental e um tom desconcertante, o que o torna desafiador e prende o espectador curioso para ver até onde vai ser levado.
A Incrível História de Henry Sugar
Direcção: Wes Anderson
Com Benedict Cumberbatch, Dev Patel, Bens Kingslijs e Ralph Fiennes
Netflix, 2024