Ator francês encarna Fassbinder no novo filme de François Ozon, "Peter von Kant".
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É um dos novos nomes grandes do cinema francês, com uma vitalidade, presença física e capacidade de trabalho comparáveis a Gérard Depardieu dos primeiros tempos. Denis Ménochet, que vimos em "Sacanas sem lei", de Quentin Tarantino, ou "Graças a Deus", de François Ozon, volta a trabalhar com o francês em "Peter von Kant", homenagem a Rainer Werner Fassbinder e à sua obra- -prima "As lágrimas amargas de Petra von Kant".
Não receou mostrar o filme na Alemanha, país natal de Fassbinder?
O meu amigo Gaspar Noé disse-me que eu vinha para um campo de minas. Mas passou-se tudo muito bem.
Já não é a primeira vez que trabalha com Ozon...
Já me pedira para fazer pequenos papéis. Mas este é um papel louco. Era uma oportunidade extraordinária, inacreditável. Ainda me estou a beliscar, para perceber se é mesmo verdade.
Como se preparou?
Comecei a ver filmes, mas foi durante o confinamento. Foi duro. Mas não tenho um método específico para trabalhar. Apanho coisas aqui e ali, se tiver sorte elas voltam, como que por magia, mas nunca é um processo consciente.
Qual foi o maior desafio?
O texto. Nunca fiz teatro. Aprender o texto, estar ali à frente da Adjani e da Schygulla....
E com Isabelle Adjani?
Fiquei impressionado. É uma lenda, cresci a ver os filmes dela. Senti que não merecia estar a contracenar com ela, que não pertencia ali. Foi bizarro. A maneira como representa é inacreditável. Tem uma aura......
Até que ponto tentou imitar Fassbinder?
O Ozon não me teria deixado. O que o Philip Seymour Hoffman fez no "Capote" é de outra galáxia. Ainda não consigo chegar lá. O guarda-roupa, os cenários, a iluminação ajudaram... Foi o que me fez parecer o Fassbinder, não fui o responsável.
O Fassbinder morreu com 37 anos, mas parece ter vivido o dobro. Identifica-se com a energia que ele colocava no trabalho?
Não creio que me possa identificar com essa linha de trabalho. A vida dele e o trabalho dele eram uma só coisa. Sou mais preguiçoso. Os tempos eram outros. Ele era capaz de passar quatro dias sem dormir, a escrever e snifar cocaína. Depois dormia um dia e recomeçava. E ninguém era capaz de lhe dizer que não era saudável.
Não se sente grande ator, parece duvidar de si...
É isso que me motiva. Durmo com a dúvida ao meu lado, a olhar para mim. No primeiro dia de cada rodagem fico sempre convencido que vou ser despedido.
De onde veio o interesse pela representação?
Um dia andava à procura de papel para fazer um charro e vi um anúncio da Lesley Chatterley, que tinha uma escola de representação. Não tinha dinheiro, mas ela disse-me para aparecer num estágio de dez dias, sem pagar. Acabei por ficar três anos. Ensinou-me tudo.
O cinema francês está num bom momento para um ator?
A diferença é que nós temos vinho tinto. Faz-nos criticar tudo. A cerveja faz-nos gostar de tudo. Nós temos os irmãos Lumière, os "Cahiers du Cinema" e uma fantástica cultura de ir ao cinema e de falar de cinema.