No ano em que o primeiro dicionário da Porto Editora celebra 70 anos, a empresa apresenta nova Infopédia. Hoje celebram-se as línguas maternas.
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Na data em que se celebra o Dia Internacional da Língua Materna - efeméride reconhecida pela Organização das Nações Unidas em fevereiro de 2002, para realçar a importância da diversidade cultural e linguística - a Porto Editora assinala o 70.º aniversário do primeiro dicionário e oferece uma nova Infopédia aos utilizadores. O primeiro dicionário da Porto Editora foi editado em 1952, no Porto. Desde então, é considerado uma obra de referência.
O original da primeira edição foi desenvolvido pelos professores Joaquim Almeida da Costa e António de Sampaio e Melo, com a revisão de Fernando Augusto Ramos (Ciências Médicas e Biológicas), António de Almeida Campos Sampaio (Física e Química) e Albano Morgado. Posteriormente, o conteúdo foi atualizado e enriquecido com o trabalho de dezenas de colaboradores especializados.
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A ideia de haver um grupo de pessoas, sem acesso a recursos informáticos, a reunir fichas de palavras por ordem, em caixas de sapatos, na Rua da Fábrica, no Porto, para criar o primeiro dicionário, parece romântica. Mas a forma foi evoluindo, tal como a língua.
"Em 1952, uma palavra tinha uma definição; em 1994 outra, e hoje tem uma forma completamente diferente", explica, ao JN, Joana Branco, porta-voz da empresa. O facto de a língua estar viva faz com que os dicionários estejam em permanente atualização.
Da primeira à quinta edição, a sobrecapa dos dicionários da Porto Editora era amarela. No início da década de 80, a sexta edição apresentou, pela primeira vez, a cor laranja, que passou a ser a imagem de marca destes dicionários.
Plataforma renovada
Em 1994, surgiram as disquetes, de que "muita gente já não se lembra". A década de 1990 trouxe também os formatos de bolso. Em 1996, apareceram os dicionários em CD-Rom. Os dois suportes tiveram a última edição em 2010 e já ninguém os procura. "Já nem os computadores os conseguem ler." Em 2003, surge a Infopédia, que agora ganha nova vida.
"Quisemos assinalar o 70.º aniversário com uma prenda para os utilizadores da Infopédia, que surge com nova imagem e configuração mais amigável". É mais fácil encontrar palavras, permitindo uma ligação maior com as palavras de dicionários de outras línguas. Na nova configuração da Infopédia, há também jogos com erros de português. "A plataforma é nova, mas apresenta o mesmo rigor que deu origem ao dicionário de 1952". A Infopédia e a "app" do dicionário da Porto Editora representam a evolução natural. Agora, é na Infopédia "que a maioria dos utilizadores faz as buscas".
Os únicos resistentes que ainda utilizam os dicionários em papel são os alunos que frequentam o Primeiro Ciclo da escola, a quem é ensinada a mecânica das pesquisas. Se assim não fosse, continua Joana Branco, "uma criança de oito anos não saberia encontrar uma palavra num dicionário, mas talvez fosse capaz de encontrá-la num telemóvel".
A grande mudança deve-se à digitalização. A título de exemplo, um dicionário dos anos 1990 continha 90 mil entradas; hoje tem 265 mil, ou seja, mais do dobro. "Entraram muitas palavras e muitas outras adquiriram novos significados. Num dicionário vemos o retrato da sociedade. Mas ainda há a ideia de que compramos um dicionário e já não é necessário mais nada".
Com a Infopédia, a atualização das palavras é feita num regime quase diário, o que seria impossível com um dicionário impresso. A tecnologia também tornou mais fácil o diálogo com os subscritores, que agora podem dizer o que querem ver incluído no dicionário.
Curiosidades
Vocabulário médico
Durante a pandemia houve um conjunto de palavras, como "covid", que entraram no léxico. Por isso, foi com surpresa que a Porto Editora viu, na rubrica Palavra do Ano 2020, ser escolhida "Saudade". Deu-se também o caso de palavras que já existiam, mas apenas no léxico médico, como "zaragatoa" ou "endemia", terem ganho outra dimensão.
Acordo ortográfico
A digitalização e a tecnologia trouxeram novas palavras, mas o Acordo Ortográfico também foi um dos grandes contribuidores para o acréscimo de vocábulos, que entraram nos dicionários de Língua Portuguesa.
Outras línguas
Os dicionários da Porto Editora mais procurados noutras línguas são os de inglês, francês e espanhol, mas há também quem procure outros dicionários, como o de grego ou o de tetum.