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A vertigem mediática tem destas coisas: aos grandes acontecimentos seguem-se as sentenças rápidas, quase sempre baseadas em indícios, pistas nublosas, opiniões para todos os gostos, enquadramentos vários de múltiplos especialistas. Nalguns casos, sensações fortes. E quando essa pulsão se constrói em cima de uma tragédia, a tentação para encontrar culpados ganha a velocidade de um gatilho. Mas no desastre sem glória do elevador de Lisboa só podemos ter uma certeza: não podia ter acontecido. Porque a vocação de um meio de transporte é levar em segurança os passageiros do ponto A para o ponto B. Tudo o resto são elucubrações. Quanto mais não seja porque pode não haver uma só causa para o fatídico acidente. E estarmos perante uma combinação de fatores que, conjugados, resultaram numa tempestade perfeita.
O tempo da verdade não é o mesmo da vontade. Nem jurídica, nem política. Esta prudência, tão custosa de acolher atualmente, não é, porém, impeditiva do apuramento cabal dos factos. É fundamental que se promova uma investigação profunda às falhas daquele equipamento. Sejam elas estruturais ou na manutenção periódica. Reúna-se informação, colem-se os cacos e cumpra-se a lei.
Como em Entre-os-Rios e como nos fogos de verão, mais uma vez ficou provado que somos melhores a expiar demónios do que a evitá-los. Que somos demasiado lestos nas conclusões e demasiado brandos nas previsões. Ora, é nas horas brandas que o trabalho de formiga deve ser feito. Quem serve o Estado, e os cidadãos, tem esse dever. Não podemos estar sempre a subir e a descer num elevador com risco e sem glória.