Ex-coordenadora critica atrasos de Évora 2027 e exclusão de membros da candidatura
A antiga coordenadora da Equipa de Missão da Capital Europeia da Cultura (CEC) Évora_27, Paula Mota Garcia, criticou esta segunda-feira o atraso na constituição da associação gestora da iniciativa e a exclusão de membros ligados à candidatura.
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"Considero que a escolha das pessoas para a estrutura de governança de uma CEC deve ser norteada pelo conhecimento que têm do projeto e da adequação das suas competências profissionais ao mesmo e não por princípios de confiança de ordem pessoal", vincou.
Paula Mota Garcia, que se demitiu do cargo, na quinta-feira, numa reunião da assembleia-geral da Associação Évora 2027, recentemente criada para gerir o projeto de CEC, explicou, em comunicado, as razões da sua decisão.
Assinalando que se afasta "por considerar não estarem reunidas as condições" para continuar, a antiga coordenadora adiantou que uma das razões é a exclusão de membros da Equipa de Missão, defendendo que a sua integração na estrutura de governança, por experiência de outras CEC, "é um fator decisivo de sucesso".
"Tendo plena consciência da complexidade da implementação de Évora_27, cujo programa cultural e artístico é composto, pela primeira vez, apenas por novas criações artísticas com estreia marcada para 2027, entendo que essa tarefa exige a constituição de uma equipa profundamente conhecedora do processo", sublinhou.
Nesse sentido, Paula Mota Garcia considerou "inaceitável que a Associação Évora 2027 não tenha escolhido para o cargo de Direção de Comunicação e Alcance a Marisa Miranda", que também já apresentou a sua demissão, embora continue em funções até dia 31 deste mês.
"A decisão tomada pela maioria dos associados prefigura, não só uma quebra de confiança no trabalho desenvolvido pela pessoa que criou todo o programa de Alcance e Estratégia de Comunicação e Marketing", mas é "sobretudo sinónimo de uma profunda falta de visão estratégica para a execução do projeto", frisou.
No comunicado, Paula Mota Garcia apontou como outra das razões os atrasos na constituição da associação gestora da CEC, referindo que a entidade de governança foi criada "apenas em fevereiro de 2024" e, atualmente, "a sua direção continua incompleta".
A associação permanece "impossibilitada de, entre outras coisas, receber as verbas protocoladas entre o município de Évora e o Governo de Portugal em junho de 2023, com prejuízos claros na execução das atividades previstas em 'bid book' [dossiê da candidatura], advertiu.
Salientando que a Equipa de Missão Évora_27 sempre manifestou preocupação com "o arrastar deste processo", a antiga coordenadora alertou que "esta demora penaliza artistas e parceiros envolvidos na iniciativa".
Paula Mota Garcia também censurou a criação do cargo de presidente na associação, lembrando que o dossiê da candidatura previa que a direção executiva fosse composta por diretores Executivo, Artístico, de Comunicação e Alcance e Financeiro.
"A introdução da figura de 'Presidente' nesta orgânica - que resultou de uma imposição do anterior Governo perpetuada pelo atual - desvirtua o proposto em 'bid book', contraria as boas práticas de gestão de uma CEC, assim como as recomendações do painel internacional de especialistas que agora monitoriza todo o processo de implementação de Évora_27", avisou.
Além disso, a negociação sobre a criação e nomeação deste cargo "tem tido prioridade sobre o que deveria ser absolutamente essencial", que é "a garantia das condições necessárias para que toda a atividade referida em 'bid book' fosse devidamente contratualizada".
"A tão necessária 'open call' [chamada] para novos projetos artísticos dirigida aos agentes culturais residentes no Alentejo, atempadamente definida pela Equipa de Missão, continua por lançar, colocando já em causa o cumprimento do cronograma apresentado em 'bid book'", exemplificou Paula Mota Garcia.
A direção da associação gestora da Capital Europeia da Cultura Évora_27 vai tomar posse na quarta-feira na cidade alentejana.
Esta associação vai ser presidida pela jurista Maria do Céu Ramos, já indigitada, que era secretária-geral da Fundação Eugénio de Almeida.
Recentemente, foram nomeados em assembleia-geral da associação, por maioria, o economista António Costa da Silva e o consultor Bruno Fraga Braz como diretores Financeiro e de Comunicação e Alcance, respetivamente.
Autarca lamenta demissão
O presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá, lamentou a saída de Paula Mota Garcia do projeto Capital Europeia da Cultura (CEC), considerando que é "uma enorme perda para o processo de construção" da iniciativa.
"Foi a pessoa que acompanhou e delineou todo o programa artístico da CEC", pelo que "a saída da Paula Mota Garcia é uma enorme perda" para o projeto, afirmou o autarca alentejano, em declarações à agência Lusa.
Pinto de Sá falava sobre a demissão de Paulo Mota Garcia do cargo de coordenadora da Equipa de Missão da CEC Évora_27, apresentada na quinta-feira, numa reunião da assembleia-geral da associação, recentemente criada para gerir o projeto.
O presidente da câmara frisou que "Paula Mota Garcia foi o rosto mais visível para o conjunto dos projetos propostos na CEC e a principal responsável pela elaboração das candidaturas de pré-seleção e seleção que defendemos face o júri internacional".
"Espero que essa situação não venha a pôr em causa o próprio projeto ou, pelo menos, para não ser mal-entendido, o conteúdo do projeto, uma vez que o conteúdo contido no dossiê de candidatura é o que tem de ser aplicado", salientou.
Lembrando que a assembleia-geral da associação recusou a sua proposta de manter a responsável pela área da comunicação na Equipa de Missão, que também já se demitiu, o autarca disse ter dúvidas que agora "seja possível encontrar uma solução".
"A responsável da comunicação, Marisa Miranda, foi também uma peça-chave na construção da candidatura em todo o processo de comunicação, de participação e de divulgação da imagem e até de construção da imagem de CEC", sublinhou.
"Qualidade excecional do trabalho"
Segundo Pinto de Sá, os elogios feitos ao vídeo promocional da candidatura e também o recente prémio atribuído por uma organização internacional ao logótipo da CEC "mostram a qualidade excecional do trabalho que foi desenvolvido a este nível".
"Parecia-me que não era só de justiça, mas também importante que alguém que teve este papel e empenhamento na candidatura e na construção do processo pudesse continuar, mas isso não foi possível, não foi aceite", lamentou.
O presidente do município mostrou-se preocupado por considerar que as saídas "penalizam gravemente o projeto", mas frisou que "as decisões foram tomadas pelos órgãos que as tinham de tomar e, naturalmente, esses órgãos assumirão as responsabilidades".
Este assunto deverá ser abordado numa reunião entre a gestão CDU da câmara e agentes culturais do concelho, marcada para terça-feira, de preparação do plano e orçamento municipal para o próximo ano.
Num comunicado hoje divulgado, onde expõe as razões da sua decisão, a antiga coordenadora da Equipa de Missão criticou o atraso na constituição da associação gestora da iniciativa e a exclusão de membros ligados à candidatura.
A direção da associação gestora da Capital Europeia da Cultura Évora_27 vai tomar posse na quarta-feira, na cidade alentejana.
Esta associação vai ser presidida pela jurista Maria do Céu Ramos, já indigitada, que era secretária-geral da Fundação Eugénio de Almeida.
Recentemente, foram nomeados em assembleia-geral da associação, por maioria, o economista António Costa da Silva e o consultor Bruno Fraga Braz como diretores Financeiro e de Comunicação e Alcance, respetivamente.