Custo médio das entradas subiu 20%, mas procura continua alta. Promotores culpam preços congelados desde 2019.
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Assistir a um festival é uma experiência que está (bem) mais cara este ano. Um levantamento dos preços dos bilhetes praticados pelos principais eventos do género permite concluir que os aumentos superam em larga escala a inflação de 5,1% prevista pelo Governo para este ano.
A subida média dos passes face à edição do ano passado atinge os 20%, havendo casos até em que esse aumento supera os 50%. Curiosamente, é no Norte que se registam as maiores escaladas: North Festival (de 90 para 145 euros, mais 59%, em parte devido à atuação de Robbie Williams), Marés Vivas (de 70 para 90 euros, 29%) e Primavera Sound (140 para 170 euros, 21%). O outro grande festival na região, Paredes de Coura, não alterou o preço, mas na edição de 2022 já tinha feito um ajustamento em relação à anterior, em 2019, aumentando as entradas de 94 para 120 euros, mais 28%.
Razões para essa subida não faltam, justificam os promotores. Luís Montez, responsável da Música no Coração, empresa que organiza festivais como o Meo Sudoeste ou Super Bock Super Rock (SBSR), lembra que não só os preços estiveram inalterados desde 2019, como, devido aos cancelamentos em 2020 e 2021 por causa da covid-19, os promotores foram obrigados a praticar valores de 2020 na edição do ano passado. Ora durante esse período, os custos de produção - item que engloba a mão de obra e a montagem das infraestruturas - "subiram de forma significativa", aponta. A realização da Jornada Mundial da Juventude, em agosto, veio também dificultar o trabalho logístico, nomeadamente "na disputa pelo aluguer de casas de banho".
O fenómeno inflacionista não é um exclusivo dos festivais. Basta atentar no valor dos bilhetes de alguns dos principais concertos agendados para este ano: Madonna (de 257 a 1037 euros), Harry Styles (81 a 150 euros) ou The Weeknd (81 a 131 euros), só para enumerar alguns exemplos.
"Aos poucos, vamos ter de nos aproximar da média de preços praticados nos restantes países europeus", diz o CEO da Música no Coração, embora reconheça que, para que isso aconteça, "é desejável que o nosso rendimento também se aproxime desses patamares".
Para os promotores, o desafio é grande. Se o "cachet" dos artistas não depende do país onde atuam, já o valor das entradas está ainda distante da média europeia. "O nosso menor poder de compra obriga a maior ginástica orçamental", admite Álvaro Covões, da Everything is New, que reconhece a importância dos patrocinadores para diluir os encargos.
Apesar da subida dos bilhetes e do menor rendimento disponível, as vendas correm favoravelmente.
Sem ter ainda esgotado a lotação de 45 mil lugares (mais 10 mil do que em 2022) em nenhum dos dias, o Primavera Sound espera casa cheia. "As vendas tardaram a arrancar, depois do pico do Natal, mas a resposta está a ser positiva", afiança o diretor, José Barreiro. Os efeitos da crise, todavia, são notórios. Quanto mais não seja, "por provocarem retração no consumo e um adiamento da compra".
No NOS Alive, o primeiro dia já esgotou e os restantes para lá caminham, revela Álvaro Covões. Nos festivais da Música no Coração - Sudoeste, SBSR ou Sumol Summer Fest -, as vendas até agora induzem "confiança". "Ainda não vai ser como queremos, mas já estamos a levantar a cabeça", afirma Luís Montez.
"Otimista" com a possibilidade de esgotar os 20 mil lugares, Jorge Veloso, da North Festival, acredita que o ano poderá ser difícil para quem "organiza festivais de 50 mil ou mais pessoas", já que "pode não haver público para tanta gente". "A nossa vantagem", garante o promotor da Vibes & Beats, é que "o festival decorre numa estrutura fixa, como a Alfândega, e os custos de produção são limitados".
RESTAURAÇÃO
Promotores garantem vigilância atenta no preço da alimentação no recinto
Os passes e os bilhetes não deverão ser os únicos produtos a aumentar de preço nos festivais. Impulsionadas pela subida da inflação, que incidiu de forma muito particular sobre a alimentação, as comidas e as bebidas vendidas no interior dos recintos deverão sofrer um reajuste no preço, tal como já aconteceu, aliás, em 2022. Ainda assim, os promotores contactados pelo JN garantiram que haverá uma vigilância atenta sobre o valor médio praticado, prometendo agir caso se detetem valores especulativos. "Tentamos controlar, mas sem impor preços", resume Álvaro Covões. No caso da Everything is New, que tem a responsabilidade da venda das bebidas, a limitação de preços é um obstáculo. "Ao vendermos as cervejas mais baratas do que nos festivais espanhóis perdemos competitividade", diz.
No Primavera Sound, José Barreiro revela a existência de um código de boas práticas dos operadores de restauração, decisivo para a renovação das licenças. "É normal que um produto aumente um euro. Cinco euros, não", defende.
north music festival
De 26 a 28 de maio
Passe: 145 euros; Bilhete diário; 55 euros (exceto dia 28)
Robbie Williams, Chemical Brothers e Ana Castela.
primavera sound
De 7 a 10 de junho
Passe geral: 179 euros; bilhete diário: 74 euros
Kendrick Lamar, Rosalía e Pet Shop Boys.
NOS ALIvE
De 6 a 8 de julho
Passe geral: 120 euros; bilhete diário: 60 euros
Red Hot Chili Peppers, Arctic Monkeys, Lil Nas X.
meo marés vivas
De 14 a 16 de julho
Passe geral: 90 euros; bilhete diário: 45 euros
J Balvin, Black Eyed Peas, Da Weasel e The Script.
super bock super rock
De 13 a 15 de julho
Passe geral: 125 euros; bilhete diário: 85 euros
The Offspring, The 1975, Steve Lacy, Wu-Tang Clan
meo sudoeste
De 9 a 12 de agosto
Passe geral: 120 euros; bilhete diário: 55 euros
David Guetta, Metro Boomin, Bizarrap e Slow J.
vodafone paredes de coura
De 16 a 19 de agosto
Passe geral: 120 euros; bilhete diário: 60 euros
Jessie Ware e Fever Ray.
meo kalorama
De 31 de agosto
a 2 de setembro
Passe geral: 145 euros
Arcade Fire e Aphex Twin.