A eleição do vencedor do certame nacional, que se realiza este domingo à noite em Guimarães, servirá de "teste" para a Eurovisão em Lisboa, em maio.
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De Guimarães, não sairá apenas o vencedor da 52.ª edição do Festival RTP da Canção e, consequentemente, o sucessor de Salvador Sobral no evento europeu. O espetáculo será, também, um ensaio geral para a Eurovisão em Lisboa, a primeira que se realiza no nosso país.
A dimensão do Pavilhão Multiusos da cidade-berço - que acolhe os 14 temas a concurso a partir das 21 horas - torna-o ideal para que a estação pública possa continuar a testar um conjunto de inovações tecnológicas, iniciadas nas duas semifinais anteriores, e que quer ver aplicadas no Altice Arena, na capital, palco do certame europeu em maio.
"Um dos dispositivos testado nas meias-finais, pela primeira vez em Portugal, e que será usado nesta final e depois na Eurovisão, é um sistema de automatismo de realização. Digamos que o espetáculo, durante as emissões em direto, corre praticamente em piloto automático. É tudo pensado e desenhado de antemão", explicou ao JN Gonçalo Madaíl, da direção de programação da RTP, referindo que isto é possível graças a um "software" já usado pela EBU em anos anteriores. "É um salto gigantesco para a RTP".
A equipa que deu forma às semifinais no Estúdio 1 da RTP em Lisboa, a 18 e 25 de fevereiro, é a mesma que realiza esta final em Guimarães e, dentro de dois meses, o certame no Parque das Nações. Acrescem "todos os colegas da RTP do Porto", destaca o mesmo responsável. "Não só a produção em Guimarães é maior e precisa de mais carga operacional, mas também porque o centro de produção do Porto tem muita experiência em estar na estrada com muitos programas", justifica.
Recorde-se que, se o Estúdio 1 tem 800 m2, o Multiusos distribui-se por 3600. E esta final, assistida no local por três mil pessoas, contará com 600 robots e efeitos de iluminação, mais de 200 m2 de ecrãs de vídeo, 130 motores de suspensão e 17 câmaras. O consumo de energia, contou fonte oficial da RTP ao JN, permitiria alimentar uma cidade média portuguesa. Além disso, Guimarães e Lisboa ficam ligadas por mais de 1200 quilómetros de fibra ótica, que transporta os sinais de televisão e rádio para os vários canais do universo RTP que emitem o programa.
As Doce e Simone de Oliveira
Depois das duplas José Carlos Malato/Jorge Gabriel e Tânia Ribas de Oliveira/Sónia Araújo, cabe a Filomena Cautela e Pedro Fernandes a condução do programa. Além das atuações a concurso, espera-se uma homenagem às Doce, protagonizada por Moullinex, e uma outra a Simone de Oliveira, a cargo de Nuno Feist.
Já o sistema de votações é idêntico às semifinais, mas agora o júri é constituído por sete painéis regionais: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira. A soma das escolhas destes equivale a 50 por cento dos votos. A votação feita por telefone representa os outros 50. Em caso de empate, prevalece o tema mais votado pelo público.
Dupla de apresentadores pronta para "um grande, grande espetáculo"
"Entusiasmada, lisonjeada e honrada" por ter sido escolhida para apresentar a final do evento, Filomena Cautela promete "um grande, grande espetáculo" para esta noite. A seu lado, terá Pedro Fernandes.
Os dois tiveram um papel interventivo no alinhamento do programa, "lançando várias ideias para cima da mesa", como conta, ao JN, o apresentador. "Estamos concentrados para que este seja o melhor Festival que tivemos até hoje", sublinha Cautela.
Semifinais do Festival marcadas por vários percalços
Falar, no futuro, da edição deste ano do Festival RTP da Canção vai ser, também, falar dos vários contratempos com que a organização do evento teve de lidar ao longo da competição.
Logo na primeira semifinal, e ainda no decorrer da gala, estavam Jorge Gabriel e José Carlos Malato a promover os números de telefone de cada participante, a atuação de Maria Amaral não foi mencionada. Segundos depois, já o erro tinha sido identificado, os apresentadores anunciaram a linha telefónica da última a subir ao palco. A noite ficou ainda marcada por um "erro na transcrição dos pontos do televoto", identificado num "processo de auditoria interna" acionado após a gala. Resultado: com a nova classificação final oficial, a dupla Beatriz Pessoa/Mallu Magalhães abandonou o leque de finalistas, para dele fazer parte Rui David/Jorge Palma.
Imprevistos ultrapassados, novos obstáculos se encontram na segunda semifinal. A abrir, um erro técnico impediu os espectadores de escutarem com clareza a voz de Maria Inês Paris. A intérprete voltou a atuar após todos os outros concorrentes. Acabou por ser apurada para a final, tal como Diogo Piçarra (na foto), o favorito da noite. Mas acusações de plágio de que foi alvo levaram-no a tomar a iniciativa de abandonar a prova. A RTP "compreendeu e aceitou" a decisão e convocou a oitava classificada, Susana Travassos (com um tema de Aline Frazão), para o seu lugar.
Pedro Granger: "O primeiro Festival que me apaixonou foi o da Dulce Pontes"
JN: Qual a memória mais antiga que tem do Festival da Canção?
Pedro Granger: Já o tinha visto antes, mas o primeiro que me apaixonou foi o da Dulce Pontes, em 1991, que ela ganhou com "Lusitana paixão".
Sendo um aficionado pelo Festival e, consequentemente, pela Eurovisão, consegue eleger uma música preferida?
Isso é praticamente impossível para um fã. Sou da geração "Rosa Lobato-fariana" (Rosa Lobato Faria)... Ainda assim, e se tivesse de escolher, acho que seria "Silêncio e tanta gente" (1984), da Maria Guinot, mesmo não sendo da Rosa Lobato Faria.
Que impacto tem, a nível artístico, o Festival e a Eurovisão?
Sabe que esta será a minha oitava Eurovisão. Acho que em 2017, finalmente, o público e sobretudo os músicos nacionais conseguiram perceber a dimensão que tem a Eurovisão e a enorme janela que é para a Europa e para o mundo. É o programa entretenimento mais visto no mundo, com 200 milhões de espectadores. Os Óscares têm 40 milhões.