Pianista polaca Hania Rani volta a Portugal esta quinta-feira, para apresentar o seu terceiro trabalho a solo, “Ghosts”, no Coliseu dos Recreios – tocado na íntegra, com um ensemble de músicos.
Corpo do artigo
Hania Rani escolheu duas cidades, Lisboa e Barcelona, para apresentar um espetáculo especial, um concerto dedicado sobretudo ao seu último trabalho, “Ghosts”, de 2023, álbum duplo aqui tocado na íntegra e com um ensemble de músicos. Fê-lo porque são dois locais onde se sente em casa, compreendida, desde o início da carreira. E estes são concertos duplamente especiais, com ligeiro sabor a despedida, ainda que temporária: a pianista polaca quer fazer uma pequena pausa das digressões e está a dedicar-se a uma peça sinfónica, adiantou ao JN.
Para já, Lisboa é então uma das duas cidades que acolhe um espetáculo onde “Ghosts” é central e, como no disco, tocado e vivido em toda a sua contracorrente de massas: com tempo, com calma, “de certa forma espiritual”, como é para si a música, confessa Hania.
Em palco, uma dezena músicos, entre instrumentos de cordas, sopros e metais, a maioria colaboradores e amigos de longa data da polaca, como a violoncelista Dobrawa Czocher e o baixista Ziemowit Klimek, de origens musicais versáteis. O objetivo: traduzir o melhor possível, ao vivo, a atmosfera do álbum duplo.
“Estes concertos são realmente especiais, porque nunca tinha feito nada assim. Até porque o álbum tem arranjos bastante complexos, pelo que não funcionava com duas pessoas em palco. E agora tenho vários músicos, vários instrumentos, eu própria toco piano de ópera, piano alto e muitos sintetizadores”, explica a também cantora.
É uma catarse antes do descanso: “nós demos mais de 100 concertos desde 'Ghosts', em vários locais do mundo, em Lisboa também. Então preciso de um descanso, e penso que todos precisam de um descanso, que uma pessoa precisa de uma despedida de vez em quando, para que as pessoas queiram ter-te de volta em algum momento. E achei muito bonito fazê-lo com este ensemble, um novo set de luzes, todos estes arranjos, é algo para os fãs, que espero que apreciem”, refere.
"É sempre uma grande alegria e prazer voltar"
Em Lisboa, no Coliseu dos Recreios, os lugares já são limitados, o que reforça a ideia de Hania, de existir uma ligação com o nosso país. “Portugal foi um dos primeiros países onde eu toquei, um dos primeiros que me convidaram, e eu sinto sempre que sem esses primeiros concertos, talvez não tivesse tido confiança para avançar. Então é sempre uma grande alegria e prazer voltar, e já tenho alguns amigos, mas sobretudo acho que há algum tipo de compreensão pela minha música, e é verdade que com cada álbum que gravei, eu pude vir e tocar”, adianta.
Perguntamos à pianista porque será que os portugueses a “compreendem” e a resposta surge rápida: “acho que os portugueses e os polacos compartilham um amor similar pela nostalgia, algo um pouco mais sentimental. Nós somos bastante sentimentais e sensíveis, e também bastante quentes, mas diretos de certa forma, e isso é talvez o que nos faz sentir conectados”.
Ainda no tema da nostalgia, entre os convidados de “Ghosts” destaca-se um outro artista favorito dos portugueses, Patrick Watson, cuja colaboração com Hania surgiu quase por acaso. “Eu era uma enorme fã do Patrick há muitos anos, e acho que foi durante a pandemia que ele me abordou, talvez até no Instagram, e elogiou a minha música. E começamos a conversar e a dado ponto ganhei coragem e perguntei se ele poderia entrar numa música minha. Veio o 'Dancing with ghosts', que ficou a soar um pouco à música que eu faço, e um pouco ao que ele faz… Ele tem a capacidade de criar quase universos não reais, músicas fantásticas, então pensei que ele iria imediatamente entender essa música, e foi assim que aconteceu. E ficámos amigos, o que é um belo resultado dessa colaboração”, sublinha.
Depois do concerto, vem a pausa da estrada e uma surpresa, adianta Hania ao JN: “o meu próximo álbum será muito diferente, já foi gravado e será lançado no verão, mas é uma peça sinfónica, a minha primeira peça sinfónica, é um concerto para piano, então estou muito animada para ver como as pessoas se conectarão. Acho que a música ainda é muito minha, mas obviamente eu escrevi algo para quase 50 músicos, então é um escopo muito diferente, e diferentes sabores. Estou muito animada também para ver como as pessoas se aproximam de uma cor tão diferente de mim”.