Oitava edição do Indie Music Fest abriu em Baltar, Paredes. Copa Funda foram a animação do princípio da noite. Sexta-feira toca o desejado David Bruno
Corpo do artigo
Dia Um no Indie Music Fest, em Baltar, Paredes. O verão vai-se despedindo e, com ele, fica a memória de encontros, descobertas e música partilhada. O espaço do festival abre-se como um terreno em constante metamorfose. "O espaço do glamping está esgotado para os três dias", comenta a organização. Já o campismo normal, começa a instalar-se, muito devagar, com grupos de amigos que começaram a chegar já na quarta-feira.
Já instalados e sentados à mesa estão Tiago Fonseca e Gabriel Magalhães, não se conheciam antes deste dia, mas têm "amigos em comum". Um vem de Lousada e o outro de Gondomar. Se o primeiro comprou bilhete, o segundo teve a sorte de participar num give away e vai conseguir, por fim, ver o David Bruno. "Não consegui no Primavera Sound, vai ser agora". Mas estes festivaleiros já chegam a Baltar com muita tarimba, antes deste já estiveram "no Paredes de Coura, no Evil e no Inferno das Febras". Como um assalto na memória, um deles conta um episódio do Evil: "o mosh nos Slipknot estava mesmo agressivo". Aqui quem o vê tranquilo, à sombra das árvores não imagina.
À entrada do recinto há um pequeno mercado com lojistas atentos a cada visitante. Ocarinas, maracas, reco-recos e luminárias juntam-se a dragões articulados, ímanes, porta-canetas e peças que mais parecem desafios escultóricos. No meio desse labor criativo, está Sónia Rebelo que aqui montou a sua banca. "Eu, que venho de Portimão e vivo em Vieira do Minho, adapto o design e a impressão 3D com o meu marido à lógica de cada evento."
Personagens locais
No primeiro dia, o festival ergue-se tímido, com apenas um palco a pulsar. Copa Fundo abre os concertos num formato cru e essencial - guitarra, baixo e bateria, sem artifícios, sem máscaras. Três corpos, três instrumentos, um fogo só. Rezam, entre risos, à Nossa Senhora do Churrasco, como quem implora inspiração ou pelo menos um petisco que lhes mate a fome. O humor é arma, e a música independente, a medicina alternativa que oferecem a quem se dispõe a ouvir. Dani canta mais baixo do que de costume, mas o tom íntimo encaixa. Entre canções, falam de personagens de Baltar, de miados que se confundem com refrões, e até Teresa Guilherme e Jorge Gabriel entram em cena, arrancados à memória coletiva como quem convoca fantasmas pop. Baltar, dizem, é maior do que o Mónaco - e ninguém ousa discordar.
Depois, a noite escurece com os Needle: cinco elementos, todos de negro, num ritual de rock progressivo que pede entrega. Soraia, a vocalista esforça-se, puxa pelo público, agita braços, clama em "Elude", vozes que se sobrepõem em camadas densas. Mas a resposta é morna, como se o calor do dia tivesse gasto todas as energias. Ainda assim, não desistem. Luís Costa segue-lhe as pisadas é todo um animal de palco. Anunciam "Calliope" como quem apresenta um feitiço, lembram o merchandising à venda - pequenos amuletos para levar para casa, prova de que se esteve ali, mesmo quando a chama do público ainda não está acesa. Um aquecimento irregular, mas vivo. Imperfeito, humano, feito de carne, suor e histórias - como a música.