Ator volta a apresentar nos palcos de Lisboa e Coimbra "Todas as coisas maravilhosas", um monólogo que aborda a temática da saúde mental.
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Depois de três temporadas esgotadas, Ivo Canelas volta a levar "Todas as coisas maravilhosas", de Duncan Macmillan, a Lisboa e a Coimbra. O monólogo, visto por mais de 15 mil espectadores, regressa ao Estúdio Time Out até dia 29 e segue para o Convento São Francisco a 4 e 5 de fevereiro.
No espetáculo, Canelas convida o público a "participar e recordar a importância de reconhecermos, e nos deslumbrarmos com as coisas que nos rodeiam", diz a sinopse. Em palco, não há tabus: temas como a depressão, a família e o amor são seguidos de forma quase imersiva, pelos olhos de uma criança que escreve, à medida que cresce, uma lista de razões para viver, tentando ajudar a mãe a recuperar de uma depressão.
Com os acontecimentos dos últimos anos a tornarem cada vez mais importante que se fale sobre saúde mental e a importância de pedir ajuda, o texto ganha mais relevância do que nunca. O JN falou com o ator sobre este desafio.
Para um ator, um monólogo é o grande, o maior desafio? Estar sozinho em palco, carregar a peça?
É, sem dúvida, um grande desafio. No entanto, este não é um monólogo convencional. O maior desafio é conseguir transformá-lo em momentos num diálogo com o público.
Nas primeiras temporadas, ainda em restrições de pandemia, teve salas esgotadas, um enorme sucesso. Estava à espera?
Não. Mas sabia que tínhamos um espetáculo com características que permitiriam continuar a fazê-lo com segurança e que o tema ressoaria de forma transversal em toda a sociedade.
A peça fala sobre saúde mental, depressão, lutas, desespero. Temas delicados, mas cada vez mais importantes. Tem recebido feedback mais direto do público, no sentido de a peça ajudar, guiar?
São temas que sempre foram e serão importantes. Neste momento há uma maior sensibilidade e disponibilidade da sociedade. O feedback é extraordinário, profundamente íntimo e tocante. É extraordinário quando um texto consegue tocar tantas pessoas tão profundamente.
Como apresentaria a peça?
É a história de um miúdo que começa a escrever uma lista de coisas maravilhosas para ajudar a mãe a encontrar razões para viver depois da sua primeira tentativa de suicídio. É a história desse miúdo, dessa lista, dessa mãe e dessa família. Mas, pela forma como está escrita, é também de alguma forma a história de todos nós.
Considera que há saída - as coisas maravilhosas, como o título diz, luz?
Não há milagres. Não há varinhas mágicas. Não é um texto lamechas com falsas soluções. Mas sim, há luz. Fala-se de estratégias de sobrevivência. De procurar ajuda. De falar. De treinar o nosso olhar a procurar a luz nas mais pequenas coisas. Que são na realidade as essenciais.
Já sentiu na pele algumas das lutas ou dilemas do personagem?
O personagem diz a dada altura: "Se viveres uma vida longa e se não te sentires (pelo menos uma vez) profundamente deprimido, é porque não tens andado a prestar muita atenção".
Fez cinema, TV, plataformas digitais, teatro... que palco desta arte de representar o realiza mais plenamente e porquê?
Mais do que os meios, interessa-me a qualidade, inteligência e humanidade do projeto e da equipa.
Como é ser um ator - premiado, conceituado - em Portugal? Ambiciona a internacionalização, que aliás já experimentou?
Já trabalho como ator há alguns anos e nunca tomo nada como garantido. Se esse reconhecimento existe tento honrá-lo em cada trabalho. A internacionalização continua a ser uma montanha difícil de escalar, mas continua a fazer parte das minhas ambições.
Depois destas novas temporadas, o que se segue para o Ivo Canelas?
Só o futuro o dirá...