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Dina Aguiar merece mais do que uma nota de rodapé. Merece-o por ter sido ao longo das últimas décadas a imagem mais simbólica do serviço público de televisão. Sem nunca se pôr em bicos de pés e sem nunca se lamentar por não estar no palco principal, foi sabendo navegar em mares agitados com um barquinho que manteve sempre à tona. Muitos já não se recordam, mas Dina foi pivô do Telejornal das oito numa época em que o jornalismo tinha redações a perder de vista e uma respeitabilidade que nunca mais recuperou totalmente. Deixou de brilhar ou sequer aparecer nos grandes acontecimentos, mas sem que lhe caíssem os "parentes na lama", soube reinventar-se para contar as outras notícias, as que os jornalistas a "sério" varriam para debaixo do tapete, as que não interessavam por serem pequeninas, por serem regionais, por contarem estórias com gente demasiadamente anónima, demasiadamente real, demasiadamente fora dos centros de poder e das luxuriantes feiras de ego e vaidade. Dina Aguiar tem 72 anos, parece mentira. Continua ativa, a pintar e apaixonada. Mantém-se jovem e, infelizmente, a RTP não poderá renovar o contrato por estar já em idade de reforma. Uma pena que não possam existir exceções. Quero agradecer-lhe por me ter permitido conhecer a riqueza do nosso país e das nossas pessoas. Por ter provado que é possível existir uma agenda alternativa aos assuntos de sempre. E por ter conseguido tornar inquestionável o serviço público de televisão. Obrigado pela viagem, Dina.