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"A falta de alojamento é a principal barreira no acesso ao Ensino Superior". É com esta frase de David Gomes, 22 anos, aluno da Faculdade de Desporto, que arranca uma reportagem do JN sobre um protesto dos estudantes da Universidade do Porto, que montaram acampamento em frente aos Paços do Concelho. Não se trata de estatística, mas da vida real e das suas dificuldades. Um quarto numa cidade como o Porto custa 400 a 500 euros, incomportável para uma família como a do David e outras tantas como a dele. Nem tão pobres que tenham direito a um lugar numa residência universitária (quando eles deixarem de ser uma promessa eternamente adiada), nem suficientemente remediados para aguentar mensalidades especulativas. No caso de David, a solução foi encontrar um trabalho em part-time. "Em vez de um elevador social, o Ensino Superior está a tornar-se um reprodutor das desigualdades sociais", conclui Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP. Os estudantes falam de alojamento, mas na verdade do que estão a falar é da crise de habitação que, aos poucos, vai destruindo a coesão social de que uma sociedade, um país, precisa para se manter viável. Não é por acaso que essa mesma crise de habitação é o tema dominante da atual campanha autárquica. Foi assim nos primeiros três debates organizados pelo JN (Braga, Vila Real e Viana do Castelo) e é certo que vai continuar a ser o tema primordial nos que se seguem. Mas algum dia vai ser preciso passar das palavras aos atos, seja pela crença na habitação pública, seja pela crença na virtude dos mercados, seja por um misto de dinheiros públicos e interesse privado. É caso para dizer, glosando o lema que levou Bill Clinton à presidência dos EUA nos anos 90 do século passado, "É a habitação, estúpido".