Primeiros inquilinos contam como são os dias no Campus Paulo Cunha e Silva. Residências artísticas darão frutos em breve.
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Malena Abarracín, Rogério Nuno Costa e a dupla Joana Von Mayer Trindade e Hugo Calhim Cristóvão são dos primeiros artistas a dar vida às instalações do Campus Paulo Cunha e Silva, o novo centro de residências artísticas e espaço de trabalho para as artes performativas do Porto. O JN acompanhou-os ao longo de um dia de criação.
O espaço abriu portas a 9 de junho na antiga escola EB José Gomes Ferreira, na Travessa dos Campos, no centro do Porto, com direção da equipa artística do Teatro Municipal do Porto, e pretende viabilizar a criação de uma forma mais sustentável, proporcionando um espaço e um tempo para os artistas, onde a experimentação e a criação de comunidade são fulcrais.
A utilizar o espaço para ensaiar uma nova peça com Joana Von Mayer Trindade, Hugo Calhim Cristóvão fala do significado do Campus para os artistas da cidade: "É extremamente importante que isto esteja disponível, para promover a criação local, para o Porto ser produtor de cultura performativa e não apenas consumidor. Veio suprimir uma necessidade que tínhamos há muito tempo".
A bailarina argentina Malena Abarracín mora na Invicta há três anos e diz que ficou surpreendida quando soube da existência do espaço. "Comecei a pensar numa nova peça, e andava à procura de novos locais para trabalhar. Foi aí que encontrei o site do Campus." Questionada sobre o projeto que está a criar, revela: "Estou a trabalhar pela primeira vez numa peça de tango. Vai chamar-se "Malena", porque é um dos tangos mais famosos da Argentina e também funciona como uma apresentação do meu nome. O ambiente ajudou-me muito a pensar, a investigar e a tornar uma pequena ideia num projeto real".
Sem distinções de fama
Rogério Nuno Costa tem a carreira dividida entre Portugal e Helsínquia e foi dos primeiros a entrar no Campus. "Vim cá em maio, quando ainda estava em obras, graças ao projeto "Reclamar Tempo". No fundo, fomos as primeiras cobaias, os primeiros a experimentar as instalações. Senti um cuidado grande dos organizadores em nos pedir feedback para perceberem o que nós, os artistas, precisamos e o que pode ser melhorado." Regressa agora com um projeto próprio, ainda num processo de investigação e pesquisa. "O facto de ser um espaço muito polivalente no tipo de salas que oferece permite escolher aquilo que se adequa melhor ao nosso projeto. Acho que é por isso que se encontram aqui artistas em vários níveis de criação - uns estão só com os livros, como eu, outros já em ensaios e outros com peças para estrear em breve".
Muitos são os elogios deixados à equipa organizadora do projeto. Joana Von Mayer Trindade afirma sentir-se "protegida e acarinhada", enquanto Malena Abarracin conta que é dos poucos locais onde não sente diferença na forma como tratam os artistas, independentemente do nível de fama: "Estava habituada a não sentir tanto acolhimento ou respeito por não ser uma artista famosa, mas aqui não há essa distinção. É muito gratificante."
As instalações estão abertas 24 horas por dia, de modo a que haja uma maior flexibilidade horária para todos os artistas.
Campus
Funcionamento a 100% a partir de setembro
Em setembro, serão revelados os resultados de três open calls, às quais, de acordo com Tiago Guedes, diretor artístico do Campus, concorreram 150 projetos que estão a ser avaliados por um júri externo rotativo. Os projetos selecionados vão receber apoios financeiros e técnicos para a sua realização, desde a pesquisa à apresentação. A partir de setembro, o Campus vai receber também ensaios abertos, "artist talks" e aulas diárias para todos os artistas interessados.