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Charlie Kirk, influenciador republicano, foi baleado e morto a sangue frio na passada quarta-feira, enquanto discursava na Universidade de Utah. O assassinato é desde logo um ato hediondo, mas a circunstância de ter ocorrido num espaço que simboliza o pensamento crítico e a pluralidade é profundamente perturbador. Esta morte ocorre menos de três meses depois de a deputada democrata Melissa Hortman e o seu marido terem sido brutalmente assassinados a tiro dentro da própria casa.
A escalada da violência política nos Estados Unidos não pode ser dissociada do acesso facilitado às armas, mas também reflete uma cultura em que a diferença deixou de ser entendida como parte fundamental do processo democrático. Mais do que isso, é expressão de um mundo cada vez mais polarizado e extremista, alicerçado em fundamentalismos e populismos, muitas vezes de base partidária.
Kirk era aliado de Donald Trump, fervoroso defensor do armamento, e tinha apenas 31 anos. A ironia de ter sido vítima daquilo que defendia não pode, contudo, obscurecer o essencial, ou seja, nenhuma posição política, por mais controversa ou provocatória que seja, legitima qualquer tipo de violência.
Cncordar ou discordar faz parte da vida democrática e do convívio em sociedade. Mas quando as diferenças se transformam em ódio e este se converte em violência, entramos num caminho sem retorno. A democracia só existe quando estamos dispostos a ouvir o que nos desagrada e a aceitar a existência do outro, mesmo quando discorda de nós. Quando a bala substitui a palavra, já não vivemos em democracia: passamos a viver sob a lógica da barbárie.
Charlie Kirk e Melissa Hortman eram pessoas distintas, com visões políticas opostas. Se há algo que podemos retirar desta tragédia, é que a política pode dividir opiniões, mas nunca nos deve roubar a humanidade.