Jérôme Commandeur fala da comédia "Todos a bordo!", já em exibição. Uma obra de superação.
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Não se pode dizer que a comédia francesa contemporânea, no geral, esteja à altura da tradição de gente como Coluche, Bernard Blier e Louis de Funès.... Mas há boas exceções e "Todos a bordo!", uma das últimas estreias de 2021, é uma delas.
Imagine o que aconteceria se os seus filhos e os filhos dos seus amigos, dos quais prometeu tomar conta, partissem no comboio quando ainda se encontra no cais. É o que sucede a Benjamin que, na companhia de um avô também em choque, vão fazer tudo para apanhar aquele comboio.
Ao lado do veterano André Dussollier, a descoberta, para nós, é Jérôme Commandeur, popular ator francês que também já se iniciou na realização. "Agradou-me logo esta ideia de ver o que acontece quando um filho nosso se perde. É algo em que toda a gente que tem filhos pensa, ou por medo que possa acontecer ou porque já lhes aconteceu mesmo", afirma.
Mas "Todos a bordo!" não se fica por essa narrativa mais direta. "O que me interessou bastante é a imagem que damos de nós próprios", continua o ator. "Por vezes ficamos fechados numa gaveta em que outros nos colocaram. E a minha personagem vai bater-se para se revelar, a si própria e aos outros, mostrando que é uma pessoa digna e corajosa."
É habitual dizer-se que é difícil trabalhar com crianças num filme, mas Commandeur não tem razões de queixa. "Passou-se muito bem. Afinal, não estamos muito tempo com elas porque se perderam. O realizador e a equipa técnica passaram mais tempo com eles mas foram sempre encantadores."
Pelo contrário, o ator não se livrou do lado mais físico do filme. "Tive de correr várias vezes, como por exemplo na estação de comboio. E por vezes repetimos as cenas dez ou 15 vezes", recorda. "Mas são assim as comédias, sempre muito físicas. Há um lado burlesco, é preciso fazer muita ginástica. Sobretudo quando se trata de ir atrás de alguém."
Jérôme Commandeur relata um episódio da sua vida relacionado com comboios: "Os meus avós viviam em Verona, em Itália, e costumávamos ir buscá-los e levá-los à Gare de Lyon. Era um local de prazer, porque era raro ver os meus avós, mas também triste, quando partiam. Esse comboio noturno era mítico."
Toda uma vida de cinema
O ator partilha quase todo o filme com André Dussollier, uma lenda do cinema francês. "Já me tinha acontecido com outros comediantes, de os adorar como espectador e de ter depois o prazer de contracenar ao lado deles", recorda. "Mas não devemos ficar impressionados nem ter medo de trabalhar com alguém que adoramos. Para mim o André é toda uma vida de cinema. Mas quando amamos alguém, tudo se passa naturalmente."
Apesar de ter também começado a realizar, quando é apenas ator Jérôme Commandeur confessa não passar o tempo a observar como é que o realizador faz o seu trabalho. "Nessas alturas não estou lá para ver onde é que o realizador coloca a câmara ou como é que trabalha com a equipa", diz. "Mas é verdade que agora conheço melhor os bastidores de uma rodagem. Talvez seja mais compreensivo."
Commandeur iniciou-se no cinema com um título icónico da comédia francesa, "Bem-vindo ao Norte", de que guarda excelentes memórias. "Apesar de só ter filmado dois dias, essa obra tem um valor sentimental muito grande para mim. Foi a primeira vez que pisei um plateau de cinema."
Agora está a terminar a segunda longa-metragem, um filme de aventuras. "Quis evocar um cinema que faz parte da nossa memória. Para se ver ao domingo à noite - gosto muito dessa expressão. Faz-me lembrar a minha infância, em que íamos para a cama assim que começava o genérico de fim."