A 26 de fevereiro de 1994, o Centro Cultural de Belém recebia, como titulou o JN com "pompa e circunstância", a inauguração oficial da Capital Europeia da Cultura. Esta foi a primeira vez que uma cidade portuguesa foi distinguida com o título, tendo-se seguido o Porto, em 2001; Guimarães, em 2012, e agora a cidade de Évora, que irá receber o evento em 2027.
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Uma das principais curiosidades sobre o evento, e num exercício de memória, são os grandes protagonistas deste acontecimento cultural. Vítor Constâncio era um dos motores, sendo à época o presidente da Sociedade Lisboa 94, o economista que mais tarde se viria a tornar o governador do Banco de Portugal. Como presidente da Autarquia de Lisboa estava Jorge Sampaio, homem que seria dois anos depois, e durante uma década, o presidente da República Portuguesa.
O comissário europeu responsável era João de Deus Pinheiro, nome fundamental na política portuguesa, que ocupou os cargos de ministro da Educação; ministro da Educação e Cultura e ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1994, o secretário de Estado da Cultura era Pedro Santana Lopes, que viria a tornar-se presidente da Câmara de Lisboa e da Figueira da Foz e primeiro-ministro.
No discurso de abertura, segundo conta a recensão escrita pelo "Jornal de Notícias", a grande protagonista foi Lisboa, "mas o protagonismo da capital portuguesa não fez esquecer aqueles que sofrem por causa da intolerância da xenofobia e da obsessão cultural de outros. A ex-Jugoslávia, Timor, Angola e Moçambique foram por isso lembrados".
Do programa inaugural constou um concerto da Orquestra Sinfónica de Londres, que foi transmitido por toda a Europa via rádio, um sinal de que a Internet ainda não era um meio acessível. Também foi feita uma visita à exposição Lisboa Subterrânea e um espetáculo pirotécnico, além de "festas non stop divididas entre os bares e discotecas do Bairro Alto e da Avenida 24 de julho" escreveu o JN.
Outra das curiosidades destacadas pelo JN foi a imensa cobertura dada pelos jornais espanhóis ao evento. O diário "ABC" fez um suplemento de 64 páginas, numa época em que a sua tiragem habitual era de dois milhões, por cada exemplar. Também o "El País" e o "El Mundo" dedicaram suplementos ambos de 12 páginas ao acontecimento na capital portuguesa. O evento cultural de 1994 foi uma excelente antecâmara para a Exposição Mundial de 1998.