Portuguesa Catarina Vasconcelos pode vencer primeira edição dos Encounters
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Com os filmes vistos nos últimos dias, a qualidade média das obras a concurso na 70ª edição da Berlinael, a primeira a cargo do italiano Carlo Chatrian, aumentou consideravelmente, tornando seguramente difíceis as decisões a tomar pelo júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons.
Talvez não se tenha destacado uma obra-prima consensual, nem tenha havido uma descoberta que irá marcar o cinema nos próximos anos, mas finalmente, entre os dezoito títulos a concorrer pelo Urso de Ouro, são vários os que têm boas probabilidades de conquistar o prémio, que será anunciado este sábado à noite.
"Dau Natasha" ou "Berlin Alexanderplatz" seriam um Urso com bastante significado. Os dois filmes americanos independentes, "First Cow" e "Never Rarely Sometimes Always", têm os seus seguidores e há sempre quem se deixe seduzir pelo universo de autores consagrados como Tsai Ming-Liang, Hong Sang-soo, Philippe Garrel ou Abel Ferrara, que teriam assim a possibilidade de juntar um prémio maior ao seu palmarés já muito vasto.
E há outros filmes que não admiraria ver no palmarés final, até mesmo com o Urso de Ouro nas mãos, como o iraniano "There Is No Evil", colagem de quatro histórias muito simples na sua construção, muito bem filmada e de grande profunidade nas questões filosóficas que coloca, ou "Irradiés", do vietnamita Rithy Pahn, um documentário brutal sobre a inutilidade da guerra. Centrado em imagens raras vezes vistas dos campos de concentração nazis, de Hiroshima ou da guerra do Vietname, poderemos pensar que já muito se falou sobre esses conflitos, mas ao ver o filme percebe-se que, sobretudo nos dias que correm, nunca é mais recordar tempos que não se querem de volta.
Do lado português, as esperanças estão todas concentradas em Catarina Vasconcelos, cujo belíssimo filme de estreia, "A Metamorfose dos Pássaros", é um dos quinze concorrentes à nova secção competitiva, "Encounters". Não seria também de estranhar o prémio de interpretação masculina para o poderoso trabalho do guineense Welket Bungué, em cena praticamente todas as três horas de duração de "Berlin Alexanderplatz".