“Small Changes” é o quarto disco do artista britânico, um regresso ao simples e às bases, em nome da beleza que transparece
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Michael Kiwanuka é um caso sério de talento. Os fãs chamam-lhe arte, dom, alma. Kiwanuka explica, num documentário que acompanha o lançamento do seu quarto disco, “Small changes”, como apenas se sente cada vez mais confortável na sua pele – algo que começou em “Love & hate”, após o encontro com Danger Mouse e Inflo, e que se aprimora no novo trabalho.
“Para mim, a verdadeira mestria de algo é o quão simples o podemos deixar; e ainda assim ele falar-nos”, diz no registo, frisando como o novo disco tentou perseguir isso, os artistas que admirava e onde a essência estava nas letras e melodia, num resultado que se aprenderia a tocar em minutos, não no resto.
A mestria da simplicidade, é esta a raiz do novo disco do vencedor do Mercury Prize em 2020. Aos 37 anos, o britânico filho de pais ugandeses que começou por ser comparado a Marvin Gaye ou Otis Redding, traz já consigo 12 anos de carreira, logo bem lançados com a estreia “Home again” em 2012, depois com o épico “Love & hate”, onde canções orelhudas e rebeldes, autênticos hinos com arranjos orquestrais elaborados, vinham acompanhados de "Cold Little Heart" que uma série disparou para o sucesso; e ainda o premiado “Kiwanuka”, em 2019.
Mas o mainstream não é a sua cena, provavelmente nunca será, e está tudo bem; como próprio demonstra ao escolher voltar ao núcleo, ao soul, ao frágil e à contenção. O disco, de novo com Danger Mouse e Inflo, é suave, refinado, quase espiritual, como o seu autor. A sua atenção, já o assumiu, está agora em coisas mais simples da vida, como os filhos; a revolta contra o mundo parece ter acalmado. “Live for your love”, tema dedicado à mulher, com sutis arranjos, é um dos pontos altos: e tem 2,28 minutos, sempre o menos, em vez do mais.
No final do documentário, depois do cantor resumir tudo com uma entrega de “The best of me”, recebido com silêncio total, a respeitosa mudez é interrompida por um toque de telemóvel, com todos em estúdio a romper em gargalhada. É perfeito: é a realidade a chamar, do mundo para onde Kiwanuka nos consegue levar.