A morte hoje de Paco de Lucía, aos 66 anos, deixa de luto "não é só o mundo do flamenco" como "o mundo da música", afirma a Sociedade Portuguesa de Autores.
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Paco de Lucía, atesta a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), foi "um dos maiores instrumentistas de guitarra de todos os tempos".
"Não é só o mundo do 'flamenco', que fica de luto com a sua morte, é o mundo da música e dos criadores e intérpretes, sobretudo num tempo em que a indústria musical continua a ser fortemente afetada pela crise um pouco por todo o mundo, em consequência da pirataria e do avanço desregulado das tecnologias avançadas", escreve em comunicado a cooperativa de autores.
A SPA afirma que Lucía era "um dos maiores instrumentistas de guitarra de todos os tempos e também um notável compositor".
"Paco de Lucía nunca deixou de valorizar a componente autoral do seu trabalho", sublinha a SPA, que salienta a ascendência portuguesa do músico que, em Portugal, "gozava de enorme e merecida popularidade".
A Sociedade Geral de Autores e Editores de Espanha afirmou que, "com justiça, se afirmou que, até ao momento, Paco de Lucía foi insuperável por qualquer pessoa e que o toque de hoje não seria compreendido sem a sua figura revolucionária, que aprendeu a mudar a maneira de acompanhar e conceber a interpretação do flamenco".
Paco de Lucía morreu hoje no hospital de Cancún, no México, onde se dirigiu pelo seu próprio pé, ao sentir-se mal, depois de ter jogado futebol com o filho mais novo, Diego, de 10 anos, na praia, noticiou a Efe.
Lucía, reporta a Efe, entrou no hospital, sentou-se numa maca e morreu. Segundo a agência noticiosa espanhola, o músico, natural de Algeciras, deslocava-se regularmente para descansar na "riviera mexicana", e tinha passaporte mexicano.
Em comunicado a família atesta: "Não há consolo, nem para quem o conhecia e gostava dele, como para os que gostavam dele sem o conhecer".
"A dor já tem uma data", remata o comunicado da família, da qual fazem parte outros músicos, como Pepe de Lucía e a cantora Malú.
Batizado Francisco Sánchez Gómez, tomou o nome artístico "Paco de Lucía", do hábito de o nomearem "Paco, el de Lucía", referindo que era filho de Lúcia Gomes, uma portuguesa de Castro Marim, sendo Paco o diminutivo espanhol de Francisco.
O músico editou em 1981 um álbum intitulado "Castro Marim", de homenagem às suas raízes portuguesas e, em 2005 -- a 20 de agosto de 2005 -, quando tocou na vila algarvia, tratou os espetadores portugueses por "primos".
Algeciras homenageou o músico, tendo-lhe erguido uma estátua localizada na principal avenida.
Paco de Lucía assinou cerca de 40 álbuns em nome próprio, destacando-se "Almoraima" (1976), "Entre dos aguas" (1981), "Sólo quiero caminhar" (1981), "Interpreta a Manuel de Falla", "Concierto de Arranjuez, de Joaquín Rodrigo" (1991) e "Cositas Buenas" (2004). Este último valeu-lhe um Grammy latino.
A estreia discográfica de Paco de Lucía deu-se em 1963, com o álbum "Los chiquitos de Algeciras", ao lado do seu irmão Pepe.
Como refere a Efe, o músico cresceu a ouvir na rádio nomes como Marifé de Triana, Concha Piquer e Juanita Reina, que marcaram o seu universo, como os mestres Manuel Quiroga e Juan Solano.
"O flamenco é um rasgar de alma", afirmou Paco de Lucía, numa carta ao seu construtor de guitarras, que assegurou que ele tinha vivido "muitas vezes" através deste instrumento, com o qual, na sua juventude, chegou a passar dez horas diárias.
Em 1978, já Paco de Lucía era um proeminente nome do falmenco, afirmou à televisão espanhola que o sucesso lhe tinha chegado de forma "gratuita", porque ele "apenas aspirara a tocar bem guitarra e a desfrutar disso".
Referia-se à música como "uma devoção" e argumentou várias vezes que demasiada teoria sobre este género musical matava a necessária imaginação.
Prémio Príncipe das Astúrias Artes, em 2004, Lucía foi, com Camarón de la Isla, o símbolo da renovação do flamenco e da sua globalização. Na justificação do galardão, o júri afirmou que foi "um músico que transcendeu fronteiras e estilos".
Como escreveu a Efe, o músico tirou o flamenco dos "espaços exíguos", para o apresentar nos grandes palcos, do Japão aos Estados Unidos, tendo atuado variadas vezes em Portugal, a última em 2007, no Campo Pequeno, em Lisboa.
O músico teve várias participações no cinema. As suas cordas fizeram-se ouvir em filmes de José Luis Borau, Stephen Frears, Woody Allen, Wes Anderson, entre outros, destacando-se a sua participação nas películas de Carlos Saura, "Flamenco" (1995) e "Carmen" (1983).
Paco de Lucía "era um homem duro, um guardião", disse Ramón de Algeciras, seu irmão, que afirmou que a mãe era admiradora de Manolo Escobar, carinhosa, cuidadosa com os filhos, boa cozinheira e muito inteligente. Paco sempre a adorou e por isso decidiu levar o seu nome para apelido artístico, noticia o jornal El Correo de Andalucía.
Tomatito, José Mercé, Carmen Linares, Fosforito, El Lebrijano, Juan Manuel Cañizares, Farruquito, Diego El Cigala, "a corte inteira do flamenco lamentou esta morte prematura, que se junta à de Enrique Morente [em 2010] e sobretudo à de Camarón de la Isla [em 1992]", escreve a Efe.
Os Reis de Espanha, Juan Carlos e Sofía, e os príncipes das Astúrias expressaram também as condolências à família.