Mostra de artista angolano em Braga reflete sobre passado colonial e sua influência atual
A zet gallery, em Braga, abre, dia 30 de setembro, uma exposição do artista angolano Délio Jasse, intitulada “Não Contes à Mãe”. Mostra pretende ser uma reflexão sobre o passado colonial e a sua influência sobre o Portugal do presente.
Corpo do artigo
“Délio Jasse usa a arte como uma ferramenta para explorar e compreender as complexidades do passado colonial e como ele se reflete no presente. Este trabalho convida-nos a refletir sobre as narrativas históricas, confrontar o colonialismo e as suas consequências, e repensar o que significa reconstruir uma história justa e precisa. Para além disso, é uma exposição que transcende fronteiras e ressoa politicamente em todo o mundo”, afirma Helena Mendes Pereira, diretora da zet gallery.
A mostra do angolano, nascido em 1980, resulta do seu trabalho de pesquisa de imagens e documentos de arquivo. Apresenta trabalhos inéditos que representam o foco central da produção de Délio Jasse nos últimos anos, com destaque para a sua presença no Tate Modern, em Londres.
Na introdução ao evento, a zet gallery refere que o bisavô paterno de Délio Jasse, bem com as gerações que lhe sucederam, tinham nacionalidade portuguesa, mas uma nova legislação pós-colonial não a atribuiu ao cônjuge quando os seus pais casaram no final da década de 70. Quando Délio Jasse chegou a Portugal, vindo da sua terra natal, no final dos anos 90, a sua cidadania portuguesa não foi reconhecida, dando início a uma longa jornada burocrática enquanto imigrante e cidadão português.
E sublinha: “Este processo, que durou quase uma década, acabou por se tornar o ponto de partida para a produção artística de Délio Jasse e a causa do seu profundo envolvimento em questões de identidade, memória e colonialismo”.
Mergulho em arquivos
Os curadores acrescentam que o mergulho pessoal na burocracia levou-o a interessar-se por arquivos e documentos que não apenas se referiam aos retornados, mas também à situação invisível das pessoas das ex-colónias durante o Estado Novo em Portugal.
E prosseguindo, acrescentam: “Na sua busca por narrativas ocultas em fotografias e documentos, Délio Jasse encontrou aerogramas trocados entre militares e as suas famílias que revelavam as atrocidades cometidas pelos militares portugueses, mas também relações inter-raciais que eram escondidas, como na mensagem que inspirou o título da exposição - “Não contes à mãe” - em que um soldado pede segredo ao irmão sobre a relação íntima que mantém com uma mulher negra, da qual vai enviando negativos para que sejam revelados em Portugal”.
E concluem: “Ao explorar documentos e fotografias de arquivos que revelam aspetos ocultos da história colonial, o artista procura reescrever essa história, destacando a violência muitas vezes omitida pelas narrativas oficiais. A sua obra é uma tentativa de reparação histórica”.