Ousaram abrir portas quando a palavra de ordem era fechar e, apesar das restrições atuais, garantem não haver arrependimento pelo "timing" escolhido para o arranque.
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Nascidos já no atual contexto pandémico, três dos mais recentes espaços culturais do Porto - o hotel e sala de espetáculos M.Ou.Co e os projetos autárquicos Campus Paulo Cunha e Silva e Fonoteca Municipal do Porto - procuram impor-se através do dinamismo. E, por muito distante que possa estar, é no cenário pós-covid-19 que afirmam já trabalhar, desenvolvendo projetos ainda sem data marcada.
Do trio de noviços, só o M.Ou.Co pertence à esfera privada. O risco da operação é amortizado pela crença de que "este é um projeto inovador, que equilibra a oferta turística com a componente musical", realça a diretora cultural, Sofia Miró.
Desde a abertura, em setembro, já atuaram no auditório, com capacidade para 300 pessoas, Manel Cruz, Clã ou Best Youth, mas a componente artística vai além do mero acolhimento.
Apetrechado para receber peças de teatro, lançamentos, workshops ou masterclasses, o espaço dispõe de um local de ensaio para os hóspedes, que podem ainda requisitar um instrumento, como uma guitarra ou um piano, sem que lhe sejam cobradas mais verbas.
O alojamento contempla também vários pacotes, que tanto podem passar pela dormida simples como pela inclusão de bilhetes para espetáculos. O conceito do hotel das artes está ainda em construção, mas para Sofia Miró há algo inegociável: "O que nos distingue é a ligação cultural. Acreditamos que há espaço para um turismo criativo".
"Local de partilha"
Há muitos anos que a comunidade artística portuense reclamava por espaços onde pudesse dedicar-se à criação, investigação ou ensaios. O objetivo foi concretizado em junho, com a inauguração do Campus Paulo Cunha e Silva, um centro de residências para artes performativas criado nas instalações da antiga Escola Básica José Gomes Ferreira, entre a Praça do Marquês e a Rua do Bonjardim.
"Verdadeira incubadora de artes performativas", segundo Tiago Guedes, diretor artístico do Teatro Municipal do Porto que também lidera o departamento de artes performativas da Ágora, o campus criado em memória do antigo vereador da Cultura pretende ser "um espaço de partilha que permite que o lado de convívio deixe de estar cingido aos foyers dos teatros".
Apesar de considerar que os 900 metros do campus - com estúdios, biblioteca, cozinha ou quartos - "não vêm suprir todas as necessidades", Tiago Guedes acredita que pode vir a cotar-se como "uma referência importante" no segmento.
A outra Casa da Música
Da doação de 35 mil vinis à Autarquia, feita pela RDP e Rádio Renascença, nasceu o projeto da Fonoteca Municipal do Porto.
Alojado numa sala com dois pisos nas instalações da Arda Records, este arquivo sonoro está em funcionamento há 15 meses, mas só nos últimos três as restrições passaram a ser mínimas.
Nada que impedisse a visita nesse período de três centenas de curiosos, dos quais só 10% são investigadores e académicos. "A maioria é constituída por famílias interessadas em mostrar aos seus membros mais novos como se escutava música noutros tempos", explica o coordenador da Fonoteca, João Brandão.
"Pesquisar e explorar" registos sonoros variados são os eixos da ação desta estrutura musical, que "não quer ser um arquivo parado". As conferências já realizadas são disso exemplo. Por concretizar está o projeto educativo, à espera do abrandar da pandemia para que as visitas escolares possam ser uma realidade.