Realizadora dirigiu "Amantes", um triângulo amoroso com destino trágico.
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Aos 74 anos, mais de meio século de carreira como atriz e uma dezena de títulos como realizadora, Nicole Garcia regressa apenas atrás das câmaras com o thriller dramático "Amantes". Simon e Lisa vivem em Paris e estão apaixonados. Ela frequenta uma escola de hotelaria, ele trafica cocaína. Quando um dos seus clientes morre de overdose, Simon desaparece. Anos mais tarde reencontram-se. Mas Lisa está casada e o marido é rico. Um triângulo amoroso desenha-se, mas o destino será trágico. A realizadora falou ao JN sobre o seu filme.
Como é que este projeto lhe chegou às mãos?
Foi um produtor com quem já tinha trabalhado que me propôs o filme. Deu-me a possibilidade de fazer pela primeira vez um thriller. Um filme de amor, mas de um amor que pode ser ao mesmo tempo uma ameaça, um desejo, um triângulo amoroso onde tudo concorre para que possa correr mal.
O trabalho de escrita foi feito a quatro mãos, com o Jacques Fieschi.
A história foi ele que a pensou em primeiro lugar e que me transmitiu a ideia. Depois falámos muito, discutimos muito, sobre o desenrolar da história, a caracterização das personagens. Depois ele parte, cinco ou seis dias, para escrever. Manda-me páginas do guião, eu corrijo, e vamos fazendo assim até que o guião fica definido.
O filme é uma homenagem a um certo cinema negro americano. No início vemos um excerto de um filme de Stanley Kubrick, "The killing"
Sempre gostei muito do romance negro e do cinema negro americano, porque dizem muito sobre os seres humanos e as suas contradições. Evita muito a psicologia. E sou fã do Kubrick. Em particular dos seus primeiros filmes, como aquele. Achei que dava uma boa réplica ao meu filme.
O dinheiro também é uma personagem do filme.
O dinheiro diz muito sobre o que somos. Mostra o abismo entre os que o têm e os que não o têm. A humilhação social que isso representa e o poder que dá. Já o mostrei no "Place Vendôme". Sempre adorei ver num filme a transposição dos mundos sociais. Abordar esta questão num filme é melhor do que qualquer discurso.
Há um lado sombrio no filme que não é muito comum na sua obra.
O filme é sombrio, é verdade. Mas é como a vida é, por vezes. É uma visão da vida. Passamos o tempo todo a contornar problemas, a tentar escapar-lhes. E o amor é uma mercadoria perigosa, porque há um vício, uma dependência, uma fragilidade. Tudo se joga numa paixão.
Uma paixão que se sente desde logo que é atravessada pela fatalidade.
Os dois amantes estão cobertos por uma espécie de lençol negro. Simon está votado ao fracasso e sabe-o. Aceitou o seu destino, talvez já nem tenha força para voltar atrás. Há qualquer coisa nele que já está morta. Sentimos que há sempre qualquer coisa que ameaça as personagens, que as cerca, mesmo quando as coisas são muito quotidianas.
O filme tem a estrutura clássica em três atos.
Desde o primeiro ato que a morte acontece, mesmo que tenha sido por acidente. Mas para os dois é como se tivesse havido logo uma impressão digital da morte, que se vai reencontrar no terceiro ato. E a história divide-se também por três locais. No primeiro ato, a Paris dos jovens, urbano e noturno. No terceiro ato, a frieza de Genebra. E pelo meio, um local paradisíaco onde os amantes se reencontram. Mas nunca se deviam ter reencontrado. Não é um filme romântico.
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