Diretor da Casa da Arquitetura felicita a obra dos pares nacionais e enaltece o Edifício Digital que se instala e se projeta de Matosinhos para o Mundo.
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O primeiro-ministro, António Costa, é aguardado esta noite de sexta-feira no lançamento do Edifício Digital da Casa da Arquitetura. Desde Matosinhos, abre-se ao Mundo o farol de uma arte da qual os portugueses se gabam de estar entre os melhores. "Em nenhuma outra área do conhecimento Portugal tem dois prémios Nobel, neste caso, os prémios Pritzker [Álvaro Siza e Souto Moura]", salienta Nuno Sampaio, diretor-executivo do que também é o Centro Português da Arquitetura, onde se cuida da conservação e democratização de um vasto património, o dos acervos legados por congéneres nacionais e internacionais, entre os quais o urbanista brasileiro Lúcio Costa, "o pai de Brasília".
O que é o Edifício Digital da Arquitetura?
O objetivo é levar a arquitetura a todos, criar uma ideia coletiva sobre a importância da arquitetura, na sociedade portuguesa ou à escala mundial. Faz, essencialmente, quatro tipos de coisas: arquiva acervos, promove o estudo e o conhecimento científico, através do Centro de Estudos, abre o diálogo com a sociedade civil, criando exposições, conferências e debates que ajudam a população a compreender a arquitetura, e organiza a visita física. É para levar a arquitetura a todos. Através da Internet, podemos levar a arquitetura a toda a gente, em todas as geografias.
Resumidamente, partilha e democratização da arquitetura...
Partilha, democratização e universalização. Daí que todos os conteúdos serão abertos a toda a gente, de forma gratuita. Há várias instituições que fazem um pouco disto. O que a Casa da Arquitetura acrescenta é esta missão de criar uma ideia coletiva sobre a importância da arquitetura, que é fundamental para que a sociedade reconheça a excelência do trabalho dos arquitetos e para que reconheça o quanto a arquitetura tem impacto para a qualidade de vida das populações, no espaço de trabalho, de lazer, das habitações e do espaço público.
Essa necessidade de partilha significa que a arquitetura ainda é um espaço restrito ou elitista?
É, essencialmente, um espaço restrito, mas estamos numa Europa que exige habitação para todos, numa época em que ainda existe muita habitação muito pouco qualificada em Portugal, sobretudo se pensarmos naqueles tantos edifícios que foram construídos nos anos 1970 e 1980, feitos por não-arquitetos. A arquitetura vive para resolver os problemas da sociedade, para resolver problemas práticos e ajudar as pessoas. Com este edifício pretendemos, pois, criar um trabalho mais universal. Será atualizado todos os dias. Não será um simples depósito. Aliás, quando nos entregou o acervo, Eduardo Souto Moura disse que a Casa da Arquitetura não era um túmulo de acervos.
E como se divulgará?
Hoje, o arquiteto é coordenador de uma equipa vastíssima de gente, de paisagistas a biólogos ou engenheiros, de inúmeras ciências e saberes. Portanto, o que nós fazemos é produto de uma equipa vastíssima, multidisciplinar. Nessa perspetiva a Casa da Arquitetura ajuda a que as pessoas entendam a produção de um país, de um contexto, por exemplo da arquitetura portuguesa ou brasileira, mas também do arquiteto Eduardo Souto Moura, do arquiteto Paulo Mendes da Rocha ou do arquiteto Carrilho da Graça, de quem temos uma exposição a decorrer.
Que parcerias mantêm com as faculdades de arquitetura?
As faculdades são o sítio onde se produz informação em Portugal. Dentro do nosso Centro de Estudos, disponibilizamos os acervos aos investigadores, para que venham cá estudar e divulgar o trabalho dos nossos autores, portugueses ou estrangeiros. Com o apoio da Fundação da Ciência e Tecnologia, também lançámos, para os próximos cinco anos, dez doutoramentos anuais, para que se estude e investigue a arquitetura e sobre os autores que têm obra aqui arquivada.
De que forma a pandemia agilizou a digitalização?
Tudo o que a pandemia nos mostrou nós já tínhamos. Revalorizámos instrumentos como o Teams, o Zoom, o Skype o WhatsApp. Todas essas plataformas já existiam. Agora, todos os arquivos estarão disponíveis online. Tudo desmaterializado: textos, desenhos, fotografias, filmes, entrevistas... Permitirá que todos poderão aceder a este conteúdo, a cada desenho do Eduardo Souto Moura, ou do João Luís Carrilho da Graça, ou do Gonçalo Byrne, mas também, por exemplo, aos projetos do Paulo Mendes da Rocha e do Lúcio Costa, o que é brilhante, porque temos aqui documentos fundacionais da capital do Brasil. Pretendemos também instalar uma "mini-Amazon" da arquitetura, a Loja Digital. Estamos a falar de livros, de mobiliário, de obras gráficas e de merchandising. Serão mais de três mil elementos que num primeiro momento estão disponíveis para compra. Só de debates e conferências são mais de 250 filmes, alojados no YouTube.
Como se sustenta a Casa da Arquitetura?
Tem investimento público, porque é de serviço público que aqui estamos a falar, porque estamos a mostrar o que de melhor Portugal tem na arquitetura e, mais, estamos a mostrar o que de melhor Portugal tem em todas as áreas. Da medicina à cultura ou à música, podemos fazer a história do século XX sem vir a Portugal, mas é impossível fazer a história da arquitetura mundial sem vir a Portugal ver a produção dos nossos arquitetos. Isto é inequívoco. Em nenhuma outra área do conhecimento Portugal tem dois prémios Nobel, neste caso, os prémios Pritzker [ndr: Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura]. E outros profissionais, de outras gerações, ganham prémios internacionais, que prestigiam a arquitetura portuguesa.