The Stranglers, Altered Images e Starsailor: as primeiras impressões na tarde de todos os "óberigadus" em Vilar de Mouros. O festival já decorre em grande andamento.
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Há encontros improváveis que a música nos oferece, e a festa de 60 anos de Vilar de Mouros deu-os todos, no primeiro dia em que os James eram os mais ansiados e os The Kooks fechariam a noite do festival.
Três bandas, três épocas, três estéticas distintas: Starsailor, Altered Images e The Stranglers, debaixo de um sol abrasador. À primeira vista, pouco haveria em comum entre eles. Mas basta ouvir com atenção para perceber que todos partilham a mesma urgência em traduzir a vida em som, cada qual com a sua gramática própria.
O Festival CA Vilar de Mouros 2025 abriu esta quarta-feira à tarde e, até sábado à noite, apresentará concertos diários de várias variantes de rock, ou hip-hop, com focos em Sex Pistols (quinta-feira), Papa Roach (sexta) e Da Weasel (sábado).
Os hinos discretos
Os Starsailor, britânicos de Chorley, nasceram no início dos anos 2000, quando a poeira do Britpop começava a assentar. O que trouxeram de novo a Vilar de Mouros na tarde de inauguração do festival foi a intimidade. Frases suicidas que parecem procurar o seu fim, acompanhadas por uma voz nasalada e um piano delicado.
A sua melodia grita confissões. "Good souls" ou "Alcoholic" tornaram-se hinos discretos de uma geração que busca emoção desarmada. No meio da turbulência musical da época, ergueram um espaço de pausa, onde a vulnerabilidade era força e pareceram convencer até os festivaleiros mais taciturnos.
Uma miúda de 63 anos
Os Altered Images, escoceses de Glasgow, transportam-nos para outro cenário: o início dos anos 1980, quando o pós-punk se transformava em algo mais leve e colorido, como os vestidos que usaram cheios de purpurinas rosa. Liderados pela voz de Clare Grogan, que aqui está desde os seus 17 anos, aos 63 anos contém o dom de nos fazer sorrir, mesmo quando a melodia esconde um certo travo melancólico.
"Happy birthday" ou "I could be happy" soam a juventude em festa, engatilham estranhas coreografias, desde aula de aeróbica, air guitar até salsa. Grogan tem a energia de quem descobre a vida com olhos curiosos, como o marido com "quem nunca pensei casar". A sua pop é cintilante, quase ingénua, sem ser superficial - tem sempre uma faísca de diferença que os afastava do puro mainstream.
E depois vêm os The Stranglers, ingleses de Guildford, mais sombrios, mais contraditórios, mais crus e muito cool. Nascidos no final dos anos 1970, navegam entre o punk, o rock e a new wave, recusando rótulos. A agressividade do baixo, os teclados hipnóticos, as letras carregadas de ironia e desencanto deram-lhes uma identidade singular. "It"s always the sun" ou "Golden Brown" mostram que podem ser simultaneamente brutos e sofisticados, furiosos e elegantes. Uma prova de que a rebeldia também pode vestir-se de subtileza.
Um espelho de sons
À sua maneira, os três grupos rock recusaram o lugar-comum. Os Starsailor com o desencanto, os Altered Images com a leveza luminosa e os The Stranglers com a obscuridade ousada. O que os distingue é o modo como escolheram contar a sua história: uns com fragilidade, outros com brilho pop, outros através da tensão incontrolável. Juntos, lembram que a música não é uma linha reta, é um espelho inclinado, é um caleidoscópio de sons - e o público devolve-lhes a saudação com que passaram o dia a brindar-nos: "óberigadu!".
O Festival CA Vilar de Mouros, que se prolonga até sábado (veja aqui o alinhamento dos quatro dias) fecharia a primeira noite com uma enchente de gente a banhar-se na pop contagiante dos James.