O futuro chegou a Serralves com data marcada. A 6 de junho de 1999, a inauguração oficial do Museu de Arte Contemporânea fez confluir ao edifício projetado por Álvaro Siza Vieira notáveis - ou candidatos a tal - de todos os quadrantes, numa antecipação do dinamismo fervilhante que tomaria conta do Porto em 2001, ano em que assumiu, com Roterdão, o título de Capital Europeia da Cultura.
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Mais de duas mil pessoas marcaram presença na cerimónia, calculou o "Jornal de Notícias" na edição do dia seguinte, detalhando o corrupio que tomou conta do novo espaço e dos frondosos jardins adjacentes.
"Franqueadas as portas, uma longa fila de convidados foi, lentamente, atrás do presidente da República e do primeiro-ministro, admirando as peças expostas mas, sobretudo, surpreendendo-se com a luz solar que domina as salas que nos vão surgindo como que de surpresa ao dobrar a esquina do corredor", explicava o jornalista Jorge Vilas.
A extensa mole de convidados não escondeu a admiração perante os contornos da nova criação do primeiro Prémio Pritzker português, uma das personalidades mais requisitadas do ato inaugural.
Referida com particular ênfase foi a luminosidade do museu, mas também a retidão das linhas arquitetónicas, a alvura dominante e a amplitude dos espaços mereceram vários elogios gerais.
Nos discursos da praxe, os responsáveis políticos aludiram ao "dia de grande felicidade", como sintetizou Elisa Ferreira, destacando ainda "o projeto muito bem concebido", nas palavras de Luís Valente de Oliveira.
A vastíssima comitiva visitou com vagar os quatro mil metros quadrados do novo espaço, divididos por salas expositivas, auditório, livraria, biblioteca, centro de documentação e áreas de restauração.
A curiosidade em torno do recém-inaugurado museu de arte contemporânea fez até passar para segundo plano a exposição inicial, Circa 1968, sobre as criações artísticas desse período, marcadas pelo radicalismo, com obras de artistas oriundos de mais de uma dezena de países.
Mas, como escreveu o JN no mesmo artigo, "o artista maior foi Álvaro Siza Vieira". Para espanto de muitos, o arquiteto pediu que "as portas do novo edifício se abrissem, sem que, lá dentro, houvesse qualquer luz artificial. Assim aconteceu e os convidados puderam percorrer as 14 salas e corredores, sob a luz do sol que escoava dos tetos e grandes janelas. Inolvidável sensação...".