Estreia esta quinta-feira a segunda longa-metragem da promissora argumentista e cineasta francesa Léa Mysius. Filme desenrola-se entre uma dimensão de realismo social e outra de fantástico.
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Com apenas 34 anos, Léa Mysius tem um já impressionante currículo como argumentista, tendo trabalhado em guiões para autores tão consagrados e exigentes como Claire Denis ou André Téchiné. Não foi, pois, com surpresa que se lançou também na realização, já em 2017, ainda na casa dos 20 anos, com o prometedor “Ava”. Agora, chega-nos a segunda longa-metragem da autora, um projeto mais uma vez singular, “Os cinco diabos”, que esta quinta-feira chega às salas de cinema nacionais.
O filme decorre numa pequena localidade alpina e tem como personagem central Vicky, uma garota de oito anos com um dom especial: ela guarda em frascos os odores que vai captando à sua volta.
A mãe de Vicky, interpretada por Adèle Exachopoulos, é instrutora de natação numa piscina e tem como hobby mergulhar nas águas geladas de um lago das imediações até ao limite da resistência humana.
O pai, por seu lado, é bombeiro. A chegada de uma tia, irmã do pai, vai transformar a vida familiar de Vicky, bem como a sua visão do mundo, revelando-lhe segredos do passado.
O filme circula com uma grande dose de equilíbrio entre dois registos, o do realismo quase se diria social, e o fantástico. E cruza imensos subtemas: o racismo latente na sociedade francesa, o masoquismo nas crianças, o problema da incomunicabilidade no casal, a identidade sexual.…
Todos estes fluxos temáticos indiciam, mesmo que tal não se soubesse de antemão, estarmos na presença de um filme “de argumentista”, de tal forma a teia está tecnicamente tão bem montada. Mas Mysius escreveu o guião a meias com Paul Guilhaume, que é… diretor de fotografia!
Passa-se assim para outra dimensão do filme, a visual. Rodado em película de 35mm, como já o fora “Ava”, também fotografado por Guilhaume, “Os cinco diabos” integra a história do filme, de forma elegante, visceral e harmoniosa com os cenários naturais onde se desenrola.
É um filme para ver mas também para cheirar, convocando assim o mais possível os nossos sentidos para a experiência única da sala de cinema.