Universidade Sénior das Artes do Palco, no Porto, perdeu a maioria dos alunos por causa da covid-19, mas continua as atividades com danças e músicas da Broadway.
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A Universidade Sénior das Artes do Palco, no Porto, não é um projeto vulgar. Ali, os idosos não estão sentados a ouvir matérias aborrecidas e nem a frequentam apenas para ter um motivo para sair de casa ou ter companhia. A pandemia está a travar o sonho destes alunos, com idades entre os 65 e os 90 anos, de fazerem parte do mundo do espetáculo.
O projeto nasceu em setembro do ano passado e chegaram a montar um espetáculo. "A peça "Do cabaré para o convento" que foi um sucesso. Tínhamos na altura na universidade entre 20 a 30 inscritos, mas devido à covid-19 a maior parte deixou de vir. Ou porque têm outros problemas de saúde e têm medo ou porque tiveram de ficar em casa a cuidar dos netos. Neste momento, temos sete alunos", explica Maria Oliveira, mentora do projeto e professora de piano, cujas aulas estão canceladas devido à situação atual.
Na sala de ensaios encontram-se Berta, de 73 anos, Maria Eugénia, de 66, Maria do Rosário, de 90, e Maria Augusta, de 85. Aprendem os primeiros passos do musical "Annie". "Adoro isto. Passamos aqui momentos extraordinários", diz Rosarinho, que foi professora de Educação Física e que por isso está à vontade no trabalho de transferência de equilíbrio ao som de um trecho do musical Chicago. Uma espécie de aquecimento de iniciação ao treino.
Berta foi explicadora e a alegria espelha-se nos olhos quando fala na universidade sénior. "O meu sonho era ser artista, mas a vida levou outras voltas. É pena que isto tenha aparecido só agora. Traz-me alegria!", conta. Maria Eugénia concorda. Nunca é tarde e nem quer saber da opinião da família, embora tenha "todo o apoio do marido e dos filhos". Professora do primeiro ciclo já reformada também para ela a universidade sénior "é a concretização de um sonho".
Entusiasmo de viver
O segredo de ser jovem é ter uma causa a que dedicar a vida. A juventude não é um período da vida, mas sim um estado de espírito. Este é o lema da universidade, onde, de momento, apenas o teatro musical é lecionado. Além das aulas de piano, também o teatro, o ballet, as lições de guitarra e de canto estão paradas. "Apesar de garantirmos todas as condições de segurança há pouca gente inscrita, o que é pena porque nesta fase também é importante que os mais idosos se libertem, não pensam tanto no problema da pandemia e tenham este entusiasmo de viver. Mas também não queremos que as pessoas se infetem", acrescenta Maria Oliveira.
Além da universidade sénior, as Artes do Palco são abertas ao final do dia a turmas com crianças e jovens. O resultado final são os espetáculos com alunos de todas as idades o que não acontecerá este ano.
Priscila Clemente, professora de teatro musical, fala da importância da dança, das coreografias e do acompanhamento musical para manter uma atividade física e mental saudável. No extremo da sala Maria Augusta é a mais calada e segue os passos realizados um pouco à frente pela irmã mais velha. Foi sempre dona de casa e acabou "arrastada por Rosarinho".
Todas olham para o espelho, pela procura da sintonia nos movimentos. "Acho que errei na profissão, a minha vida devia ter sido no teatro", termina Berta.