Não haverá despedimentos, mas são muitos os cortes orçamentais na programação e nos serviços educativos.
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Vários relatórios revelados recentemente apontam para o mesmo desfecho: o futuro dos museus portugueses avizinha-se problemático e carece de medidas urgentes.
A maioria das receitas dos museus provém de bilheteiras. Receitas que tiveram este ano uma quebra de 70%. Apesar da descida, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) disse ao JN que não haverá despedimentos nem reformulações nas instituições. Aliás, a DGPC lançou um concurso em setembro para contratar 74 assistentes técnicos. Uma medida também defendida no relatório do Grupo de Projeto Museus no Futuro, que reclama um programa de recrutamento jovem devido ao "envelhecimento dos quadros técnicos" e "escassez de recursos especializados".
Segundo dados revelados no relatório do Governo sobre a aplicação da declaração do estado de emergência, a receita nos 24 museus e monumentos nacionais entre 18 de maio e 24 de novembro foi de 1 722,06 euros. Em junho, a quebra de bilheteira nos museus ascendeu a 89,1%, justificada pela descida de 70% dos visitantes estrangeiros, em especial nos museus de Lisboa.
Entre os menos procurados estão o Museu de Arte Popular e o Museu da Música, na capital. Além do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, que, todavia, esteve parcialmente encerrado para obras no período em causa.
Os museus públicos mais visitados são o Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, e o Museu de Conímbriga, em Coimbra, numa lista encabeçada por monumentos: o Mosteiro dos Jerónimos, de novo em Lisboa, e o Convento de Cristo, em Tomar.
Privados também caem
A tendência não difere nos museus privados. "O Museu Coleção Berardo teve menos 685 mil visitantes a exposições, uma quebra de cerca de 70%", disse ao JN a direção da instituição. Acrescentando que "sofreu uma quebra abrupta, em novembro, com menos 90% de visitantes, face a 2019". Os constrangimentos de horários agravaram a situação.
Em termos globais, as "receitas próprias do museu estão abaixo cerca de meio milhão de euros, representando uma quebra de 75%", causada sobretudo pela "redução drástica do turismo e o desaparecimento das visitas escolares e famílias", explica a direção.
O orçamento para 2021 tem em conta esta realidade mas não prevê a redução da equipa. Todavia, a opção significou "cortes profundos no programa de exposições temporárias e projetos de continuidade do Serviço Educativo".
O JN contactou a Fundação de Serralves, que se escusou a fornecer dados, mas é pública a entropia do processo dos trabalhadores do Serviço Educativo da Fundação. A semana passada, Philipe Vergne, diretor da instituição, sem se pronunciar sobre o caso, fez rasgados elogios à sua equipa e admitiu "trabalhar a partir de uma posição de privilégio quando quase todas as instituições do Mundo estão fechadas".