O fadista português convidou a espanhola Maria Rodés para um concerto ibérico que acontecera esta terça-feira à noite na Casa da Música, no Porto
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Tudo começou com um desafio da Embaixada de Espanha em Portugal ao músico português Marco Oliveira: escolher um nome da música espanhola contemporânea para uma parceria musical ibéria. Maria Rodés foi a eleita. O resultado será apresentado esta terça-feira, às 21 horas, altura em que sobem os dois ao palco da Sala 2 da Casa da Música, no Porto.
Marco Oliveira é um fadista que se move entre o fado e a música popular. Lançou o primeiro álbum com 20 anos, "Retratos" (2008), seguido de "Amor é água que corre" (2016). Em maio de 2021 editou o álbum "Ruas e memórias", que tem produção, assinatura, arranjos e direção musical do músico José Mario Branco (1942-2019).
A embaixada, que já tinha ouvido o fadista português no Festival Internacional de Almagro, em Espanha, lançou o convite depois de um concerto no Museu do Fado, para a apresentação do último disco. "Sugeriram que escolhesse um artista espanhol e na altura tinha acabado de ver o filme "Viver duas vezes" e escutei o bolero, "Perfidia", pela voz da Maria Rodés e fiquei deslumbrado", admite Marco Oliveira.
Já Maria Rodés, que diz que a única relação que tem com Portugal é como turista, admite ao JN, que não esperava o convite do músico português. "Foi uma surpresa, senti-me muito orgulhosa". A artista tem seis álbuns de estúdio, todos com exploração de diferentes géneros musicais. O último, "Lilith", foi editado em 2020.
Os ensaios decorreram através do Zoom. Os artistas só terão um dia de ensaios presenciais e pretendem também aproveitar a oportunidade para gravarem uma música paras as plataformas digitais.
O concerto divide-se em duas partes, com repertório de cada um dos artistas. Marco Oliveira junta-se ao portuense Miguel Amaral na guitarra portuguesa para tocar temas do álbum "Ruas e memórias". Mas não só. "Para além dos temas desse disco, vamos tocar uma versão de "Tengo en el pecho uma jaula", do cantautor Amancio Parda, que fiz durante o confinamento e ainda uma melodia feita pelo Miguel do poema "No te alejes de mi" do Pablo Neruda. Será um dueto com a Maria e será uma forma de explorar estes temas, pela primeira vez ao vivo", afirma Oliveira.
Por sua vez, a cantora espanhola subirá ao palco com o seu quarteto: Isabelle Laudenbach (guitarra e coro), Marina Tomás (clarinete, guitarra elétrica e coro) e Marta Roma (violoncelo, percussão e coro), a sua formação habitual, e também apresentará temas do álbum "Lilith".
Sobre o fado, Rodés afirma não saber cantá-lo. "Sempre gostei do fado. Não o canto, mas não acho que seja muito diferente do que faço. De alguma forma, sinto-me identificada com o fado", admite.
A cidade invicta foi a escolha para a estreia desta parceria ibérica, mas ambos ainda estão a estudar a possibilidade de continuarem a parceria, com mais concertos espalhados por Espanha e Portugal.
Marco Oliveira está a tentar marcar, para o Porto, uma apresentação do "Ruas e memórias", com um programa igual ao do concerto realizado a 5 de dezembro, no Teatro São Luiz, em Lisboa, que contou com o guitarrista José Peixoto e o coro juvenil dirigido pela maestrina Filipa Palhares como convidados.
"Descobri que os discos não são fechados. Apercebi-me da importância de ter outros músicos em palco. No Teatro São Luiz, explorei a "Canção do medo", que até me já apontou um caminho possível para um próximo disco, que olhará para a infância e o seu papel. O facto de ser pai ajudou-me. Será um disco menos melancólico."
"O "Ruas e memórias" ficou marcado pela partida de José Mário Branco, o que mudou, por complet,o o disco. O próximo será mais esperançoso."