O mercado musical português acompanhou em 2020 a tendência global, registando um volume de negócios de 37 milhões de euros, mais 4% do que no ano anterior. O segmento digital já vale o triplo do físico.
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Cada português gastou em média dois euros no consumo musical durante o ano passado. Os números constam do relatório anual do mercado discográfico nacional, que reúne dados recolhidos pela AFP (Associação Fonográfica Portuguesa) e Audiogest (Associação de Gestão de Direitos de Produtores Fonográficos), revelando um aumento de 4% face ao ano de 2019.
Dos 37 milhões de euros obtidos em receitas, o consumo de música é responsável por pouco mais de 21 milhões de euros, enquanto os restantes 16 milhões dizem respeito a direitos de produtores e artistas.
O crescimento registado em 2020 fica, contudo, muito aquém do obtido no último ano de análise (cerca de 11%), mas também da própria subida no mercado mundial, cifrada em mais de 7%.
A alavancar este aumento está sobretudo o segmento digital. O streaming já vale quase o triplo do suporte físico (perto de 16 milhões de euros contra 5 milhões e meio, aproximadamente).
Diretor-geral da Audiogest, Miguel Carretas destacou "a capacidade de resiliência" do setor, já que "são pouquíssimas as atividades de negócio que continuam em plena atividade depois de terem registado quedas tão abruptas durante anos a fio". No início do milénio, o mercado da música (não incluindo os concertos) em Portugal ascendia aos 115 milhões de euros. Quase duas décadas depois, o volume foi reduzido em mais de 80%. A tendência atual até é de crescimento, já que, a meio da década passada, o setor estava avaliado em 15 milhões de euros.
Apesar da subida registada este ano, o diretor-geral da associação que gere os direitos dos produtores fonográficos está pessimista para 2021. "É seguro que vamos ter uma descida este ano. Falta apenas cifrar a queda", diz. A descida esperada não tem que ver apenas com a lenta retoma mas também com o facto de não estarem previstos lançamentos de novidades que contribuam para um aumento significativo da procura. Outro dos fatores que justificam as reservas de Miguel Carretas tem que ver com a demora na transposição comunitária que determina que as plataformas de partilha de vídeos de música (das quais o YouTube é, de longe, o mais popular) celebrem acordos de concessão de licenças com os titulares dos direitos.
Vinil sobe, CD desce
Analisando ao detalhe os dados deste setor, verifica-se que o streaming representa 96% do total de receita, com os downloads e o mobile a ficarem com percentagens residuais. A repartição por itens é um pouco mais equilibrada: as subscrições totalizam 60% do volume de negócios, o que significa que foram gastos no ano passado nove milhões de euros em plataformas como Spotify, Tidal, Amazon Music ou Deezer. Os 40% em falta ficaram divididos em doses iguais pelo vídeo streaming e anúncios.
Sem surpresa, o mercado de venda de discos voltou a cair (cerca de 20%), mas o comportamento do CD e do vinil não podia ser mais dissonante. Se os primeiros tiveram uma diminuição de vendas na ordem dos 40%, o vinil, em grande parte à boleia do colecionismo, subiu 38%. Feitas as contas, a quota do CD no suporte físico - que, há menos de uma década, era superior a 90% - é de apenas 55%. A manter-se a tendência dos últimos anos, é muito provável que já em 2021 se assista a uma ultrapassagem do vinil face ao CD.
No que toca ao repertório, a música nacional tem um peso de 21,8% das receitas em suporte físico e 16,6% no digital.
Uma das notas positivas do relatório tem que ver com os direitos de produtores e artistas. Em 2020, as verbas cobradas aumentaram 4,6 milhões de euros para 15,6 milhões de euros.