Apenas uma hora depois de ter sido anunciada publicamente a deslocalização do Meco para o Parque das Nações, em Lisboa, era visível a agitação entre os responsáveis e trabalhadores do festival Super Bock Super Rock: equipas de televisão impedidas de filmar no interior da herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, e muita confusão: "Está a ser um corrupio", confessava um trabalhador da equipa de segurança ao JN, debaixo de um toldo que servia de cobertura para os 33 graus que se faziam sentir.
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No meio do pó, que se entranhava na garganta, cerca de 700 profissionais arrancavam palcos há muitos dias montados algo que, segundo Luís Montez, da promotora Música no Coração, "deita para o lixo um trabalho de três anos".
"Estivemos até às 14.30 horas à espera de um sinal de que pudesse haver uma exceção para o estacionamento. Podíamos ter sido avisados mais cedo. Acabámos de montar a cobertura do palco. Este esforço era evitável se nos tivessem dito mais cedo", afirmou, visivelmente desolado com a situação.
Hoje, de acordo com o promotor, não há descanso para ninguém. "O plano é não dormir para montar tudo. Estamos a desmontar. O som e a luz já estão na arena. Vamos começar a montar os palcos, espero amanhã à tarde já fazer ensaios de som e luz para que na quinta-feira esteja tudo "ok"", apontou.
Sobre o prejuízo desta mudança radical de última hora, Luis Montez assumiu que se vai focar no trabalho para já: ""Prezo muito o meu coração, não quero ter nenhum ataque. Para já quero é fazer. Isto é uma violência, depois de dois anos de pandemia só com despesas. O que não nos mata torna-nos mais fortes".
Os artistas já foram notificados e agradecem a mudança para Lisboa: "Os internacionais até ficaram contentes, ficaram mais perto do aeroporto. [...] Para eles até estão bem. Os outros [nacionais] ficaram contentes porque pensavam que não ia haver festival mais um ano. Mais vale assim", disse o promotor ao nosso site.
A dois dias do festival, os campistas ainda não estavam no recinto porque a data de ingresso para quem iria acampar seria dia 13. Contudo, a organização arranjou uma solução, em conjunto com a Câmara de Lisboa. "Arranjámos uma solução, em conjunto com a Câmara de Lisboa, no Parque Tejo para as pessoas que querem acampar. Temos lá um espaço verde por baixo da ponte Vasco da Gama. Em poucas horas avançámos muito. Tenho uma grande equipa".
Sem cafés ou restaurantes, por perto, apenas árvores ao redor, é preciso ir até aos arredores da Aldeia do Meco, a poucos minutos de carro, para perceber os efeitos da deslocalização do Super Bock Super Rock. Carlos Coelho, de 48 anos, proprietário do restaurante "O Carlos", que existe há 36 anos, já faz contas à vida porque tinha contratado um trabalhador para este fim de semana: "Foi uma desilusão total. Estava toda a gente preparada para isso. Eu, no meu caso, tinha mais uma pessoa contratada para este fim de semana e os colegas certamente também terão. Vamos notar a ausência".
Mais à frente na estrada, Filomena Rodrigues, de 60, dona de uma mercearia, fez encomendas acima do habitual para dar repostas aos festivaleiros que iriam surgir. "Tínhamos investido algum dinheiro em bebidas, produtos e comida a contar com esta semana ser mais movimentada. [...] Os nossos clientes habituais também fogem da confusão, de serem muitos miúdos", assumiu ao JN.