Não sabemos se "a superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo", como escreveu Pessoa. Do que não restam dúvidas é que a leveza na arte está desvalorizada. Da música à pintura, aqui ficam cinco manifestações de como podemos encontrar fruição plena em obras que fazem da evasão a sua arma.
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"Will you still love me when I'm no longer young and beautiful?", interroga-se Lana del Rey num dos seus mais inspirados temas. O canto nostálgico da nova-iorquina parece tão dirigido a um pretenso amor como aos seus próprios seguidores, mais atraídos decerto pelo seu 'look' flamejante do que pelas inquietações metafísicas. Sob a aparente superficialidade que lhe é tantas vezes atribuída, muitas vezes injustificada, Lana Del Rey encerra mais mistérios do que um caso detetivesco mal resolvido.
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Os clichés estão lá todos: dos estereótipos sobre os franceses (preguiçosos, pouco práticos mas sempre imbuídos de um charme natural) ao enredo sem adiposidades, ideal para uma digestão pacífica. Mas, com ou sem 'guilty pleasure' à mistura, é sempre com superlativa curiosidade que assistimos às desventuras de uma 'marketeer' e 'influencer' de Chicago pela mais luminosa das capitais europeias. E a segunda temporada que nunca mais começa.
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Explosões de cores. Infindáveis traços de luzes que apontam para o infinito. Rostos célebres transfigurados pelo espanto. Assim se faz a arte de Peperina Magenta, artista argentina de 34 anos cujos trabalhos são uma espécie de interminável caleidoscópio cromático. A residir atualmente em Copenhaga, Magenta é fortemente influenciada pela cultura visual mexicana, a que acresce uma irresistível atração pelo imaginário pop, sobretudo das décadas de 1950 e 1960 (Marilyn Monroe é uma das suas maiores obsessões).
Na longa suite hedonista que foram os anos de 1980, os INXS foram os maiores (um dos maiores, vá). Sem o charme dos Duran Duran ou a pinta dos Spandau Ballet, ofereceram-nos, todavia, canções eivadas de um imediatismo ao qual só os mais fleumáticos souberam resistir. Liderados por Michael Hutchence, fizeram-nos acreditar, não tanto pelas letras superficiais mas sobretudo pelo apelo pop irresistível, que há momentos sedosos que permanecem para sempre.
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Talvez possa soar injusta a inclusão do realizador Ron Howard numa lista que enaltece as virtudes do superficial na arte. Não significa isto que a futilidade seja a característica maior dos seus filmes, mas apenas que estes colocam de lado o propósito de interpretar o mundo à sua maneira, optando antes de mais por contarem os méritos e as virtudes associados à vida. Competente, mas privado da centelha de arrojo que separa os medianos dos efetivamente grandes, Howard terá na sua extensíssima cinematografia flagrantes exemplos de obras mais ricas do que "Far and away". Mas, pela forma inteligente como captou a dinâmica entre Tom Cruise e Nicole Kidman, a sugestão vai precisamente para esse filme:
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