Duo britânico atua este sábado à noite na Casa da Música, no Porto. Sereias fazem as honras de abertura.
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A muitas bandas respeitáveis acontece o seguinte: lançam dois ou três discos que estremecem o Mundo, vendem à resma, são louvados como a última Coca-Cola do deserto. Depois, continuam a trabalhar mas já ninguém lhe liga – perderam o gás ou a espuma e há outras bebidas palpitantes a excitar o mercado. Onde páram Franz Ferdinand ou Kaiser Chiefs, por exemplo?
Percurso diferente é o dos Sleaford Mods, que passaram anos na sombra a aprimorar uma estética e chegaram ao estrelato já depois dos 40 anos e de cinco discos. Será isto mais sólido, mais confiável?
Maduro é certamente. E por isso não será surpresa se o duo de Nottingham aviar este sábado um concerto memorável na Casa da Música, no Porto, cumprindo com distinção critérios técnicos, performativos e emocionais.
Jason Williamson, a metade vocal dos Mods, andou mesmo aos encontrões pela vida até descobrir um idioma próprio. Foi expulso do liceu, trabalhou numa fábrica de fast-food, quis ser ator e percebeu que não tinha jeito. Olhou então para uma guitarra e aprendeu a tocá-la.
Antes de criar os Sleaford Mods, em 2007, foi ainda músico de sessão para bandas como Spiritualized ou o duo eletrónico Bent. Quando se dedicou inteiramente ao seu projeto, levou tempo a que alguém reparasse nele: usava samples de outras músicas (“Submission”, dos Sex Pistols) ou batidas em loop e por cima despejava o seu arrazoado de crítica política e de costumes. Mas faltava ali uma peça para a coisa levantar.
Catilinária potente
Jason encontrou-a num clube de Nottingham, onde atuava um DJ veterano: Andrew Fearn, que viria a tornar-se a metade rítmica dos Sleaford Mods. Com a entrada de Fearn, Jason libertou-se para evoluir na sua escrita e vocalização (algo entre o rap e o punk desbocado), ao passo que o DJ introduzia o seu lo-fi minimalista, dividindo a nova assinatura musical da banda.
O resultado deu estrondo: logo no primeiro LP a dois, “Austerity dogs” (2013), o Mundo vergou-se à simplicidade assassina dos Mods: catilinária potente contra o Brexit em base rítmica vital. Ao vivo, Jason atiça as hostes e Fearn liga o lap top e recolhe-se com uma lata de cerveja. Foi esta a moldura dos primeiros anos.
Agora, ao contrário do fogo-fátuo de outros números, continuam a refinar a máquina, ora colorindo, ora escurecendo, mas sempre com um saudável amadorismo: sem ceder à indústria, sem amolecer o verbo.
Na Casa da Música, os Sleaford Mods sobem ao palco da sala Suggia às 22 horas. Antes, às 21 horas, o sexteto Sereias faz o aquecimento.