JP Simões apresenta sexta-feira, em The Great Lisbon Club, o mais recente álbum do seu alter ego.
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Uma conversa sobre os heterónimos de Fernando Pessoa com um pintor inglês em Buenos Aires; uma determinada afinação de Miguel Nicolau, que permitia "explorar a guitarra de outra maneira"; e a audição intensiva de Nick Drake deram origem a Bloom, o alter ego de JP Simões que se estreou em 2017 com "Tremble like a flower" e regressa agora com "Drafty moon", álbum que poderá ser escutado dia 3 de dezembro no novo festival The Great Lisbon Club.
"Começou por ser um exercício literário: imaginar-me como um músico dos anos 1960 que compunha temas bucólicos e pastorais", diz JP Simões, que na vida real iniciou a carreira em 1995 com os Pop Dell"Arte. Mas Bloom é um ser camaleónico, tal como JP, que reconhece no seu percurso uma "sucessão de ruturas": se o primeiro disco era intimista e atravessado pelo ar do campo, "Drafty moon" é tenso e urbano, "como um avião a debater-se com um céu carregado de nuvens", diz o músico, que escreveu os oito temas do novo álbum antes da pandemia, mas sob o efeito de "preocupações e desconfortos". "Andava a refletir sobre o destino humano, sobre esta ideia do espírito estar a ser transformado em algoritmo."
o espírito de bowie
O travo negro do disco é "parcialmente salvo pela autoironia" de JP Simões, que se tornou famoso também pelos seus apartes desconcertantes durante os concertos. E se não há um propósito concetual em "Drafty moon", a unidade do disco é alcançada pelos arranjos de Miguel Nicolau, "que estabeleceu uma continuidade entre os temas, para que não fossem apenas um sortido". Também as influências de Bloom não resultam de qualquer programação, sendo uma "ínfima parte do trabalho". Mas é inevitável o choque com o espírito de David Bowie, uma das referências de sempre de JP Simões. Se a densidade e a aventura dos álbuns de Berlim, ou o negrume de "1. Outside", são reconhecíveis ao longo do álbum, as marcas mais assumidas provêm do testamento do camaleão, "Blackstar", e de passagens, quase decalcadas, de "Wild is the wind", canção incluída em "Station to station".
Sem vontade de estabelecer nova rutura na carreira, pelo menos no imediato, JP Simões tem já na forja o novo trabalho de Bloom, para quem nunca encontrou uma identidade visual, porque "nunca fui especialista em imagem". Alguns desses temas serão desvendados no concerto do novo festival lisboeta (ler caixa).
Trata-se de nova mudança, para um registo mais "despojado" e que reflete a "estranheza dos confinamentos". Foi criado nesse período, diante de uma "comunidade imaginária, onde estavam personagens da Grécia antiga e amigos da adolescência".