Oliver Stone estreia novo documentário polémico "Nuclear Now" e é a estrela do festival romeno. Documentário "Cesária Évora", de Ana Sofia Fonseca, e "Índia", longa-metragem de estreia de Telmo Churro, são os dois portugueses em destaque na Transilvânia.
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Cluj-Napoca, antes conhecida apenas como Cluj, é a terceira maior cidade da Roménia e a capital da Transilvânia, uma das mais importantes províncias do país, na sua zona norte, perto da Hungria e a não muitos quilómetros da região mais ocidental da Ucrânia.
Para quem vem de fora, a Transilvânia é mais conhecida como a "terra" do Conde Drácula, reconhecida pela sua monumentalidade e vida cultural intensa. Mas, apesar de ser a capital da região onde a lenda teve início, é na capital Bucareste que reside a história do verdadeiro Príncipe Vlad, vulgo o Empalador, e do seu gótico alter-ego Drácula.
É uma figura incontornável do universo fantástico do cinema, cuja história, romantizada conhecemos de tantos clássicos, desde "Nosferatu, o Vampiro", de Murnau, ao "Drácula de Bram Stoker", de Francis Ford Coppola, passando por inúmeras personificações do conde amante de sangue de virgens, por Christopher Lee.
Mas foi para ver filmes que o JN foi convidado para a 22.ª edição do TIFF - Transilvania International Film Festival, uma organização, no bom sentido do termo, que mobiliza toda a cidade, ocupando uma boa parte dos seus cinemas, espaços culturais e amplas praças com sessões esgotadas ao ar livre.
Além de uma competição que nos mostra algum do melhor cinema feito nos últimos meses em todo o mundo e de um vasto panorama do cinema romeno, que conquistou o mundo logo após a queda do regime de Ceaucescu, o festival dedica também um espaço importante aos clássicos da Sétima Arte.
Assim, foi possível sair de uma sessão esgotadíssima ao ar livre, no átrio do Museu das Artes e com música ao vivo, da obra-prima de Tod Browning, "The unknown", datada de 1927, com Lon Chaney e uma muito jovem Joan Crawdord, e ainda nos depararmos, na Praça da União, ao lado da grande basílica da cidade, com a igualmente composta projeção ao ar livre de "Casablanca".
Foco aberto sobre dois portugueses
Numa programação variada, que inclui quase duas centenas de filmes, encontramos duas produções portuguesas. Ainda sem estreia comercial prevista e com a primeira apresentação pública no Indie Lisboa, "Índia" tem aqui em Cluj-Napoca uma das suas primeiras exibições.
Trata-se da longa-metragem de estreia de Telmo Churro, argumentista e montador da trilogia "As mil e uma noites", de Miguel Gomes, entre tantas outras obras do recente cinema português,
"Índia" acompanha a relação entre um guia turístico de Lisboa, em pleno luto de uma relação amorosa, e uma brasileira em busca de um velho herói, desaparecido há séculos numa ilha do Atlântico Sul.
A outra produção portuguesa em foco é o documentário "Cesária Évora", de Ana Sofia Fonseca, que já conhecemos da estreia portuguesa. É um retrato íntimo e revelador da personalidade e do talento da cantora que Cabo Verde deu ao mundo. Um sinal da importância dada à música pelo festival da Transilvânia.
Tangerine Dream e o polémico Oliver Stone
Além de vários outros cine-concertos, como o do grande clássico "A Carroça Fantasma", de Victor Sjostrom, o festival recebeu também, na Casa da Cultura - exatamente assim chamada ou não estivéssemos num país de língua latina - um espetáculo com a formação atual dos Tangerine Dream.
O grupo de música eletrónica, formado na Alemanha em 1967 e conhecido também pela participação em dezenas de bandas sonoras de filmes fantásticos, passou aliás há algumas semanas pela Casa da Música, no Porto.
O programa do festival inclui ainda uma série de masterclasses. Aqui, as estrelas são o ator australiano Geoffrey Rush, o argumentista, produtor e realizador mexicano Michel Franco e o polémico realizador e argumentista norte-americano Oliver Stone.
O autor de "JFK", "Platoon" e "Nascido a 4 de julho" apresenta aqui na Transilvânia o seu filme mais recente, o documentário "Nuclear Now", que ainda este ano chegará a Portugal e que vai dar que falar.
A tese de Oliver Stone incide na investigação de um hipótese que pode resolver o problema energético mundial: a possibilidade de fazer face à crise climática com uma mudança dos combustíveis fósseis para a energia nuclear.