"Vermelho": a peça de teatro que discute a arte enquanto mercadoria

Qual o lugar da arte no contexto do mercado? Que papel deverá ter a ética no trabalho do artista? Como dialogam, ou se confrontam, diferentes correntes estéticas? São algumas das questões lançadas por "Vermelho", peça de 2009 de John Logan que é levada a cena, no Teatro Carlos Alberto, no Porto, pela Ensemble, com encenação de Carlos Pimenta.

Estreado em Londres com direção de Michael Grandage e interpretações de Alfred Molina e Eddie Redmayne, "Vermelho" dramatiza a encomenda feita pelo restaurante Four Seasons, em Nova Iorque, no final dos anos 1950, ao pintor Mark Rothko (1903-1970), para que criasse uma série de murais a troco de uma fortuna. O artista concluiu o trabalho, mas viria a romper o contrato e a devolver o dinheiro após uma visita ao restaurante, onde terá sentido que não era aquele o lugar próprio para expor as suas obras, que acabariam por ser doadas à Tate Gallery, onde se encontram atualmente na Sala Rothko.

Foi a visita a esse espaço que ajudou Carlos Pimenta a imaginar o ambiente da sua montagem: "O Rothko era um cenógrafo dos lugares onde expunha. Em todas as salas da Tate ouvem-se pessoas a comentar o que veem. Na sala do Rothko, reina o silêncio e a contemplação". Inscrito pelos historiadores de arte na corrente do expressionismo abstrato, apesar do pintor definir o seu trabalho como "pintura de campo de cor", as suas telas convidam a uma "experiência de carácter místico ou religioso", diz Pimenta.

O tom vagaroso, contemplativo, marca a separação entre as várias cenas do espetáculo, onde se desvela o diálogo entre Rothko (João Reis) e o seu assistente Ken (Daniel Silva), personagem inventada por John Logan - espécie de materialização do conflito interior do artista durante a criação dos murais. Interessou a Pimenta não só a discussão sobre a natureza da arte face ao comércio, mas também o choque entre diferentes gerações de artistas.