Justiça pede desculpa a sul-coreana condenada por morder língua de homem que a tentou violar
Um tribunal sul-coreano reabriu um caso de décadas, na quarta-feira, depois de o movimento #MeToo do país ter inspirado uma mulher a contestar a sua condenação por se defender da violência sexual há 61 anos.
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Choi Mal-ja tinha 19 anos quando foi atacada por um homem de 21 anos na cidade de Gimhae, no sul do país, em 1964. Imobilizou-a no chão e forçou a língua para a sua boca, mas Choi conseguiu libertar-se mordendo cerca de 1,5 centímetros da língua do homem.
Numa das decisões mais polémicas da Coreia do Sul sobre violência sexual, o agressor recebeu seis meses de prisão, com pena suspensa por dois anos, por invasão de propriedade e intimidação, mas não por tentativa de violação.
Já Choi foi condenada por causar ofensas corporais graves e recebeu uma pena de dez meses de prisão, com pena suspensa por dois anos. Na altura, o tribunal afirmou que a sua ação tinha "excedido os limites razoáveis da legítima defesa legalmente permitida".
De acordo com a AFP, o caso de Choi ganhou um novo impulso décadas depois, após o movimento #MeToo, que se espalhou globalmente em 2017 e a inspirou a procurar justiça. Na Coreia do Sul, protestos maciços pelos direitos das mulheres levaram a vitórias em questões que vão desde o acesso ao aborto a penas mais severas para crimes que envolvam câmaras espiãs.
Choi apresentou um novo julgamento em 2020, mas os tribunais inferiores rejeitaram inicialmente a sua petição. Após anos de campanha e um recurso, o tribunal superior da Coreia do Sul ordenou finalmente um novo julgamento em 2024.
"Durante 61 anos, o Estado fez-me viver como uma criminosa", disse Choi aos jornalistas em frente ao Tribunal Distrital de Busan, antes da audiência de novo julgamento, na quarta-feira, acrescentando esperar que as gerações futuras possam "viver num mundo livre de violência sexual, onde possam desfrutar dos direitos humanos e de uma vida feliz".
No início do julgamento, o procurador-geral de Busan, Jeong Myeong-won, disse: "Pedimos sinceras desculpas". "Causamos a Choi Mal-ja, uma vítima de um crime sexual que deveria ter sido protegida como tal, uma dor e uma agonia indescritíveis", admitiu.
Na audiência de novo julgamento, na quarta-feira, a acusação requereu ao tribunal que a absolvesse da condenação anterior. O veredicto é esperado a 10 de setembro.