
Psicóloga clínica Helena Paixão
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Numa vida marcada pela agitação e multiplicidade de tarefas por cumprir, a desaceleração do ritmo nem sempre é bem compreendida por quem a vive ou aceite por quem nos rodeia. Psicóloga Helena Paixão lembra que "desacelerar não é sinónimo de preguiça ou de desistir, é escolher viver com mais consciência" e deixa pistas e caminhos para pôr o abrandamento em prática.
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Para travar o ritmo agitado do dia a dia é preciso "uma dose de coragem". A psicóloga clínica Helena Paixão admite que escolher desacelerar é, cada vez mais, uma tarefa difícil. É preciso, como especifica a terapeuta, "coragem de enfrentar o vazio, de desabituar o corpo e a mente da correria e do 'ruído' que nos distrai de nós próprios".
"Abrandar pode ser difícil porque vivemos num contexto social em que a aceleração é - quase - sinónimo de valor pessoal, e estamos inseridos numa cultura que ainda valoriza a produtividade acima do bem-estar", analisa Helena Paixão. Afinal, prossegue, "desde cedo somos ensinados a medir o nosso valor pela quantidade de coisas que fazemos - não pela qualidade da presença que temos nelas". "Há uma espécie de pressa coletiva, uma ideia de que parar é perder tempo ou ficar para trás", especifica.
E se este processo interfere com a saúde mental, ele tem também implicações fisiológicas. "O cérebro humano adapta-se aos estímulos constantes: quanto mais aceleramos, mais difícil se torna tolerar o silêncio e os momentos de pausa. O descanso passa a ser desconfortável". Para combater tudo isto importa, como refere a psicóloga clínica, distinguir: "a desaceleração não é um luxo, é uma forma de higiene mental".
Se o processo é complexo para quem procura acalmar, levar os que estão à nossa volta a aceitar o mesmo pode ser ainda mais difícil. Nestes casos, Helena Paixão vinca que é preciso "comunicar que desacelerar não é sinónimo de preguiça ou de desistir, é escolher viver com mais consciência". Mas como o fazer? "Podemos dizer algo como: 'Não é que eu queira fazer menos, quero sim fazer de forma mais presente'", sugere a psicóloga clínica.
"Quando as pessoas percebem que essa escolha resulta em bem-estar genuíno, deixam de associá-la à preguiça ou falta de ambição. Trata-se, no fundo, de redefinir sucesso: em vez de "fazer tudo", passar a ser "estar bem enquanto faço", diz Helena Paixão, apostando na demonstração pelo exemplo: "mostrar pelos nossos comportamentos - e não tanto pelas palavras - que um ritmo mais lento nos torna mais disponíveis, mais criativos e mais tranquilos".
Veja abaixo seis "pequenos gestos" recomendados pela psicóloga clínica que podem começar a ser aplicadas para reduzir um pouco o ritmo imposto pelo quotidiano:
- Começar o dia devagar: antes de pegar no telemóvel, respirar fundo e definir uma intenção para o dia. Cinco minutos fazem diferença.
- Marcar momentos de pausas reais: entre tarefas, parar por dois minutos. Levantar-se, beber água, respirar conscientemente.
- Criar momentos sem ecrãs: uma hora por dia sem dispositivos digitais (por exemplo, à refeição ou antes de dormir).
- Reorganizar prioridades: nem tudo é urgente. Perguntar-se "o que precisa realmente da minha atenção hoje?"
- Agendar tempo para o ócio: colocar no calendário momentos "sem objetivo" - ler por prazer, caminhar, ouvir música.
- Fechar o dia com um ritual: desligar progressivamente. Pode ser escrever três coisas boas do dia, ou simplesmente acender uma luz mais suave e respirar.

