É possível morrer de amor, e os primeiros dois meses após a perda são vitais, diz cardiologista
O luto por alguém que amamos não tem apenas impacto emocional e mental. Pode também refletir-se a nível físico, e os primeiros 60 dias após a perda podem merecer cuidados especiais, avisa cardiologista na véspera de ser assinalado o dia Mundial do Coração, esta segunda-feira, 29 de setembro
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Perder alguém que se ama pode ter impactos profundos na saúde física, muito para lá das marcas que o luto deixa nos planos emocional e mental. Mas, é possível morrer de amor? "A resposta muito sumária é: sim", afirma à delas.pt o cardiologista e dirigente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Fernando Montenegro Sá.
O especialista detalha que "há uma síndrome cardiovascular bem estabelecida na literatura médica chamada miocardiopatia de stress ou síndrome Takotsubo, que pode por vezes ser causa de morte". Um reflexo que, como explica, "é também conhecido como a síndrome de coração partido", ou seja, "quando um evento emocional (ou orgânico) muito intenso leva a uma descarga de adrenalina tal que acaba por 'paralisar' parte do coração, simulando exatamente o que ocorre num enfarte agudo do miocárdio".
Uma situação que pode inspirar particular atenção nos meses seguintes à perda. Contudo, como vinca Fernando Montenegro Sá, "a boa notícia é que estudos recentes mostram que após os primeiros 60 dias o risco de mortalidade é igual ao da população geral".
Segundo o especialista, os sinais passam por "dores no peito, alterações no eletrocardiograma, ecocardiograma e mesmo nas análises ao sangue". "Esta situação clínica aumenta o risco de arritmias graves, sendo o seu diagnóstico difícil e muitas vezes apenas feito quando se excluem as outras causas possíveis - após um cateterismo normal e quando as alterações nos exames resolvem espontaneamente em dias", acrescenta.
"Na fase aguda, o risco de arritmias potencialmente fatal é alto, sendo frequentemente necessário manter internamento hospitalar nos primeiros dias após o evento", refere ainda o especialista.
Para Montenegro Sá, esta condição reativa ao luto "pode atingir qualquer género e qualquer idade e, embora classicamente se dissesse ser mais frequente nas mulheres pós-menopausa, o diagnóstico nos homens tem aumentado".