Em tempo de descanso nada apetece menos do que uma birra. Contudo, essa pode ser uma realidade mais comum que se possa imaginar. Psicóloga responde se se deve ou não deixar chorar a criança e indica estratégias
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Lidar com as birras dos mais novos é sempre uma das tarefas obrigatórias em férias quando se tem miúdos pequenos na família. Mas, afinal, como lidar com os gritos e o choro desmedido que surgem quando menos se espera? As teorias sobre evitar a todo o custo ou ignorar este estado emocional divergem. O que se deve então fazer? Deixar chorar ou tentar travar?
A responsabilidade não é simples e a psicóloga clínica Teresa Feijão considera que a reação dos pais "depende do contexto", sublinhando, contudo, que "chorar é uma expressão emocional legítima, não deve ser sempre interrompida". E detalha: ""Deixar chorar até passar" como estratégia deliberada e isolada pode gerar sentimentos de abandono e insegurança, especialmente nas idades mais precoces. O ideal é acompanhar a criança no choro - sem tentar "calar" nem punir - mostrando que as emoções são aceitáveis e que os adultos são porto seguro mesmo nos momentos difíceis". Para a especialista, adotar este segundo comportamento "fortalece o vínculo e ajuda no desenvolvimento da autorregulação emocional", avança, em resposta escrita à Delas.pt.
Nesse sentido, a psicóloga deixa várias "estratégias positivas" para lidar com as birras e frustrações súbitas e sonoras das crianças, lembrando que as fórmulas não são nem matemáticas, nem universais. Ou seja, nem sempre as mesmas funcionam, muito menos resultam com todos.
Para Teresa Feijão, é importante "antecipar situações problemáticas como a sensação de fome, sono ou excesso de estímulo costumam ser gatilhos previsíveis" e "possibilitar escolhas limitadas": "Preferes calçar os ténis vermelhos ou os azuis?", exemplifica a especialista, afirmando que as alternativas dão "à criança sensação de controlo". Deve-se "criar rotinas consistentes já que a previsibilidade dá segurança", "validar a emoção antes de redirecionar o comportamento" e "modelar o autocontrolo: as crianças aprendem mais com o que os adultos fazem do que com o que dizem".
Recomenda ainda que se leve, se possível, "a criança para um local mais tranquilo onde ela se possa acalmar sem a pressão do julgamento de outras pessoas".
Mas quando se está em público e sob o olhar dos outros, o que fazer? "Não se importar com o que os outros pensam", responde a psicóloga. "Não ceder só para "não passar vergonha" e ter em mente que a educação dos filhos é mais importante do que os olhares de julgamento momentâneos".
Teresa Feijão recomenda que a criança aprenda "técnicas de respiração ou outras formas de autocontrolo pode ser útil a longo prazo". "Focar na criança e na situação ajudará a resolver o problema de forma mais eficaz. É importante não demonstrar o quanto se sente afetado pelo comportamento do seu filho, respirar fundo e, se estiver em algum lugar público, procurar um local mais calmo onde a criança possa extravasar a sua birra - sem que ceda ao que ela quer. Mantenha-se firme no que acredita ser o melhor para a criança naquele momento. As crianças sentem-se seguras quando os pais se mantêm coerentes e fazem aquilo que dizem, sobretudo porque é isso que esperam dos adultos. É importante também falar de forma tranquila ao lidar com as birras, falar que entende a frustração que ele está a sentir e que aquilo que não é possível agora, poderá ser num outro momento. Não fazer falsas promessas e nunca, nunca mesmo, mentir ao seu filho, porque isso representa uma quebra de confiança gigante", alerta.
"Se se der como vencido pelo cansaço ou pela vergonha, a criança acaba por vencer essa barreira"
Retirar a violência desta equação é imperativo - até porque a existência não deverá conduzir a um bom porto -, e apostar antes em "redirecionar a atenção da criança para outra atividade ou objeto que possa ajudar a interromper a birra" e "acolher os sentimentos da criança e mostrar empatia".
Teresa Feijão lembra que "as crianças testam os limites o tempo todo". Por isso, prossegue a especialista, se o progenitor "se der como vencido pelo cansaço ou pela vergonha de viver um momento de birra em público, a criança acaba por vencer essa barreira". "As crianças precisam aprender que há momentos em que vão "ganhar a batalha", podendo fazer algo que desejam, e também outros em que não poderão. Isso é saber esperar pela recompensa. Essa aprendizagem é valiosa para o resto da vida, especialmente para a vida adulta, que é aquele momento em que mais esperamos por recompensas motivadas pelos nossos esforços e dedicação, não pelo cansaço", justifica.
A psicóloga pede "resiliência" aos pais, troca de experiências com outros progenitores e conversa com os filhos após a birra. "Assim que ela estiver mais calma, tente conversar com a criança, explicando o porquê do "não" que ela recebeu. Demonstrar que se importa com ela com atos de carinho. Ouvi-la e falar sobre o que foi possível aprender com aquela situação. E lembre-se de uma coisa: é possível aprender - e muito - com o seu filho quando o ouve de verdade. Tente compreender também o que ele sentiu naquele momento, peça que ele lhe fale e ouça sem interrupções, sem julgamentos. Isso ajuda a estabelecer um caminho importante no momento de lidar com as birras do seu filho: a confiança plena", conclui a especialista.