"Mankepping": Deve-se "reconhecer que esta sobrecarga existe, é real e compromete o bem-estar das mulheres"
"Ansiedade, insónias, irritabilidade ou cansaço persistente" são quatro sinais comuns que estão também patentes no desgaste emocional que uma mulher sente por todo o peso doméstico que tem em casa, a que se soma a logística do lar e a gestão emocional do companheiro. Psicóloga lembra que já não é só de divisão de tarefas que se fala, o desgaste feminino vai muito além disso, mas é possível contorná-lo. Ela explica como
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A psicóloga Ângela Rodrigues avisa: "São cada vez mais frequentes os relatos de mulheres exaustas, irritadas, com dificuldade em descansar, mesmo quando "não estão a fazer nada". O corpo repousa, mas a mente continua ativa: lista de compras, consulta do filho, mochila por preparar, máquina por pôr a tempo. A sensação de ter de pensar em tudo, o tempo todo, é uma fonte comum de desgaste emocional." Para lá das tarefas domésticas, surge a gestão e cuidado emocional de todas as pessoas que vivem no lar, exigindo sobrecarga. "Não se trata de fragilidade, mas de exposição prolongada a exigências mentais contínuas, sem pausa nem redistribuição justa", argumenta.
A especialista nota que "o problema não é só a ausência de participação prática, mas o que se tem chamado mankeeping: quando os homens colaboram na execução, mas deixam o planeamento e a gestão para as mulheres".
Para aliviar este peso, a especialista da Clínica da Mente sublinha que "o primeiro passo é reconhecer que esta sobrecarga existe, é real e compromete o bem-estar. Enquanto for vista como algo natural ou inerente ao papel feminino, continuará a repetir-se". De seguida, recomenda Ângela Rodrigues, "é preciso abandonar a ideia de que ajudar é suficiente." "A ajuda mantém a lógica de que a responsabilidade principal é de uma só pessoa. O que se exige é corresponsabilização: pensar em conjunto, antecipar em conjunto, dividir não só o fazer, mas também o cuidar e o lembrar".
Antecipar, assumir e planear. Estratégias 'anti-mankeeping'
Importa "romper com o mankeeping", como refere psicóloga. "Reparar no que está por fazer sem esperar instruções, assumir tarefas de forma autónoma, planear a dois e reconhecer o esforço de quem tem sustentado tudo", pede.
Diz, aliás, que "em contexto terapêutico, é frequente trabalhar-se o reconhecimento de padrões adquiridos ao longo da vida, crenças como "tenho de dar conta de tudo" ou "pedir ajuda é sinal de fraqueza" estão muitas vezes enraizadas em modelos de exigência e validação através do desempenho. Desconstruir essas ideias é fundamental para recuperar o direito ao descanso, à partilha e ao prazer sem culpa".
Num terceiro nível. Ângela Rodrigues diz ser "necessária uma mudança educativa mais profunda, nas escolas e nas famílias". "Meninas e meninos devem ser envolvidos desde cedo na organização da vida quotidiana, precisam de aprender que a gestão da casa e das emoções é responsabilidade de todos, e não uma missão delegada às mulheres".