É a culpa - e não a vergonha - que faz com que as pessoas sejam generosas, diz estudo
Investigação levada a cabo em mais de 20 países diz ter descoberto as motivações por trás da generosidade. Mais do que a reputação que ganhemos, é a culpa que sentimos que motiva a simpatia face aos outros
Corpo do artigo
Se sempre se pensou que a ideia da reputação e a forma como os outros nos olham nos levava à generosidade para com pessoas anónimas, um novo estudo vem deitar por terra essa teoria. Em vez disso, os resultados apontam para sentimentos internos de responsabilidade e culpa. Esta é definida como a sensação interna de ter feito algo errado, sentida mesmo quando ninguém mais está a ver, e a vergonha, por outro lado, traduz a forma como alguém é visto pelos outros.
Para chegar a estas conclusões, os investigadores criaram três variações de um mesmo jogo. Na primeira versão, os participantes receberam informações completas sobre as consequências da sua decisão para a outra pessoa. Esta configuração foi concebida para permitir que a culpa influenciasse o comportamento, uma vez que os participantes sabiam que as suas ações prejudicariam ou ajudariam o destinatário. Na segunda versão, os participantes poderiam escolher não saber como a sua decisão afetaria a outra pessoa, permitindo-lhes evitar saber se estavam a causar danos, e destinava-se a testar o que por vezes é apelidado de "desconhecimento intencional". Na terceira versão, os participantes sabiam que a sua decisão seria tornada pública a outros participantes sob pseudónimo, introduzindo a possibilidade de julgamento reputacional e ativando sentimentos de vergonha.
Com esta experiência, pretendia-se apurar se as pessoas seriam mais generosas se tivessem informação (condição de culpa) ou se estivessem a ser observadas (condição de vergonha). Nos 20 países a que foi submetido o teste - na tentativa de obter respostas multiculturais -, os indivíduos agiram de forma mais generosa quando tinham informações completas sobre as consequências das suas escolhas. Segundo os resultados, 60% dos participantes fizeram a escolha pró-social quando tinham informações completas, em comparação com 41% quando puderam evitar saber as consequências. Esta conclusão manteve-se verdadeira em todos os países, embora os níveis globais de generosidade variassem. O facto de as escolhas dos participantes serem públicas ou privadas fez pouca diferença na forma como se comportaram generosamente.
"Descobrimos que a culpa desempenha um papel semelhante na promoção do comportamento pró-social em todas as sociedades. Quando as pessoas recebem informações claras sobre como as suas ações podem prejudicar outras pessoas, tendem a fazer escolhas mais generosas", afirma a autora do estudo, que pode ser consultado no original aqui, e professora assistente da Escola de Economia e do Instituto de Estudos Avançados, ambos de Toulouse. Catherine Molho esperava que "tornar as decisões das pessoas visíveis para os outros iria impulsionar as escolhas pró-sociais, dado o quanto as preocupações com a reputação normalmente são importantes. Mas, para nossa surpresa, a observação de outrem teve um efeito insignificante, e isto foi consistente em todos os países e independente da sensibilidade das pessoas à vergonha".