"A fisioterapia ainda não é suficientemente divulgada nos cuidados à mulher na menopausa"
Os problemas ósseos e articulares disparam quando a mulher começa a atravessar a menopausa, mas a fisioterapia para gerir estes efeitos secundários está ainda distante de integrar o cuidado da saúde da mulher como um todo. Especialista revela o que será por fazer
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Falar e menopausa é trazer à luz novos desafios de bem-estar que deixam, não raras vezes, marcas na saúde articular e ósseo das mulheres. De entre as patologias mais comuns, a fisioterapeuta Cláudia Silvestre enumera "a osteoporose (perda de densidade óssea), osteopenia, artralgias (dores articulares), e aumento do risco de fraturas, especialmente na coluna, anca e punho". Mas há outras que também emergem nesta altura da vida e que, apesar de menos comuns, tocam num eventual "agravamento dos sintomas dolorosos na artrite reumatoide, capsulite adesiva (ombro congelado), e tendinopatias". Alterações que, como explica Silvestre, "ocorrem principalmente devido à diminuição dos estrogénios, que afeta o metabolismo ósseo e a alteração do tecido conjuntivo" e que devem merecer acompanhamento.
Mas estarão os sistemas de saúde preparados para acomodarem estas necessidades de tratamento das mulheres? "Ainda há um longo caminho a percorrer", refere a especialista. "A fisioterapia ainda não é suficientemente divulgada nos cuidados à mulher na menopausa, em Portugal. Muitas vezes, só é referenciada após o aparecimento de sintomas graves ou por iniciativa própria", informa Cláudia Silvestre, pedindo mais divulgação e integração "de fisioterapeutas nas equipas multidisciplinares dedicadas à saúde da mulher para garantir uma abordagem mais completa e eficaz".
Fisioterapeuta Cláudia Silvestre
"A divulgação por parte do SNS da pertinência da intervenção da Fisioterapia nesta área, seria um passo importante. Assim como é essencial investir na sensibilização sobre exercício físico adequado de modo a incentivar as mulheres a adotarem hábitos que promovam a sua saúde e bem-estar durante a menopausa", alerta a também terapeuta ocupacional na Clínica Médis.
"Ombro congelado" pode levar até dois anos a tratar
É um dos sintomas da menopausa, mas menos frequente e também menos falado, mas nem por isso menos incapacitante. A fisioterapeuta Cláudia Silvestre fala do designado "ombro congelado" como "uma condição crónica, dolorosa com limitação articular e rigidez do ombro tanto nos movimentos ativos como passivos", registando uma "prevalência de 2 -5% na população, sendo maior nas mulheres na faixa dos 50-60 anos". "O ombro congelado é mais frequente em mulheres, podendo estar associado a menopausa devido as alterações hormonais, especialmente a diminuição dos níveis de estrogénio. Este tem um papel protetor nas articulações e tecidos conjuntivos. A sua redução pode levar a uma maior rigidez e inflamação dos tecidos, tornando as mulheres mais suscetíveis a problemas articulares. Além disso, fatores metabólicos, como diabetes, que também aumentam na menopausa, podem contribuir para o desenvolvimento desta condição", detalha.
O tratamento por fisioterapia é, vinca a especialista, "essencial para alívio da dor a manutenção da mobilidade", adiantando tratar-se de um "processo de recuperação prolongado, podendo ser de vários meses e, em alguns casos, durar até dois anos até que a mobilidade e a função do ombro sejam totalmente restabelecidas". Cláudia Silvestre alerta que se o "ombro congelado não for tratado adequadamente, em alguns casos, pode deixar alguma limitação residual".