Neurocosmética: Tendência inovadora para 2026, mas com muitas questões ainda por resolver

Anunciada como uma das grandes tendências da indústria da beleza para 2026, a neurocosmética ainda tem muito por explicar
Foto: Freepik
É anunciada como uma das grandes tendências da indústria da beleza para 2026, mas há ainda muito por explicar. Dernatologista e neurologista revelam benefícios, desafios e pedem sentido crítico das consumidoras antes de experimentarem ou comprarem produtos que se apresentam como neurocosméticos.
A pele e o sistema nervoso podem ter mais ligações do que aquelas que possam ser consideradas numa primeira fase. A neurocosmética, uma corrente e tendência em franco crescimento neste ano e para 2026, vem estabelecer essa conexão e reivindicar o seu lugar na indústria da beleza.
À Delas.pt, a dermatologista Margarida Moura Valejo Coelho fala de uma "área inovadora" que quer criar "produtos cosméticos com efeitos que atuam não só diretamente na pele, mas também ao nível de vários neurotransmissores, os chamados "neurocosméticos"." Formulações, indica a especialista, que permitem "modular funções cutâneas e processos psicofisiológicos para melhorar o stress emocional, o humor e a sensação de bem-estar, promovendo saúde, beleza e equilíbrio".
Já a neurologista Socorro Pinheiro Santos antecipa "produtos que modulam os neurotransmisores e vão acalmar, diminuir a sensibilidade, relaxar a musculatura ou melhorar a barreira cutânea, entre outros", detalha, em resposta por escrito à Delas.pt. Esta médica crê que, "ao incluir neurotransmisores com capacidades relaxantes, podem-se aportar benefícios emocionais como relax, conforto e diminuição de stresse". "Esta nova geração de produtos tópicos de cuidados integrativos pode vir a transformar alguns conceitos e abordagens clínicas, dado que o bem-estar emocional deve ser valorizado como parte integrante da saúde da pele, e vice-versa", antecipa a dermatologista.
Especialistas pedem mais estudos e sentido crítico
Sendo uma tendência e aposta recentes, o que pede a ciência sobre estes dois novos mundos convergentes? Esta requer cautelas e maiores e mais amplas investigações em torno dos efeitos. A neurologista considera que "muitos dos efeitos divulgados como a melhoria do humor ou redução do stress se baseiam em estudos pequenos, modelos in vitro e não há ainda estudos robustos a longo prazo".
Concordando com uma "fase precoce de desenvolvimento [da neurocosmética], a dermatologista lembra que existem "ainda muitas questões por responder sobre os efeitos e aplicabilidade prática dos neurocosméticos".
Dermatologista Margarida Moura Valejo Coelho [Foto: DR]
"Ainda não se sabe, por exemplo, qual a duração das alterações induzidas por produtos neuromoduladores aplicados sobre a pele. Por outro lado, a individualidade biológica poderá determinar respostas variáveis de pessoa para pessoa. É também importante aprofundar a investigação médico-científica para clarificar o perfil de segurança e eventuais efeitos adversos destes produtos", contrapõe a especialista.
Enquanto a ciência faz o seu caminho, Socorro Pinheiro Santos sublinha que "os neurocosméticos continuam a ser cosméticos" e que"não podem ser apresentados como curas de doenças ou como medicamentos. A neurologista pede, nesse sentido, para que as consumidoras, antes de comprarem, "leiam as etiquetas dos produtos, procurem moléculas que tenham respaldo de estudos científicos e desconfiem de promessa milagrosas". A
dermatologista Margarida Moura Valejo Coelho reclama "uma postura informada e crítica". "O consumidor deve verificar a composição do produto e ações dos seus ingredientes, preferindo produtos de marcas confiáveis e com suporte de estudos clínicos", acrescenta a médica que reitera que "os produtos cosméticos devem servir para complementar - mas não substituir - os cuidados dermatológicos ou tratamentos indicados por médicos".
E que vantagens estão já aceites?
Ainda que a ciência tenha palavras a dizer, Socorro Pinheiro Santos afirma que "são amplamente conhecidos e antigos os benefícios de múltiplas substâncias como os peptidos botulinicos nas microcontracoes e relaxação de rugas, neuropeptidos no prurido e ardor cutâneo, mentol que aporta frescor e alívio da dor, entre outros". A médica dermatologista destaca "diversos ingredientes ativos".
"A aplicação tópica de determinadas moléculas demonstraram reduzir a reatividade cutânea e a tensão muscular relacionadas com o stress, contribuindo para melhorias visíveis e uma sensação de tranquilidade", especifica Margarida Moura Valejo Coelho. A especialista acrescenta que os "agentes com propriedades antioxidantes, como a melatonina, ou anti-inflamatórias [como por exemplo os agonistas dos recetores canabinóides] parecem ser também promissores no alívio do prurido, dor e inflamação e na modulação da perceção do humor". Num terceiro eixo, a dermatologista crê que estes produtos, que parecem caminhar para uma nova tendência na chegada de 2026, "podem ser interessantes na abordagem da sensibilidade cutânea e crises espoletadas pelo stress", argumenta.
Importa lembrar que a ligação entre a pele e o cérebro pode ser muito mais profunda do que possa parecer, com "complexas interações" que são "importantes para a saúde e beleza", afirma Valeojo Coelho, que conclui: "As perturbações deste equilíbrio por estímulos emocionais de stress, ansiedade ou tristeza podem, por um lado, afetar negativamente a saúde da pele, desencadeando respostas que contribuem o desenvolvimento ou agravamento de algumas doenças e para o envelhecimento cutâneo, e, por outro, estímulos positivos de tranquilidade e bem-estar podem melhorar a qualidade e aparência da pele".

