Os programas destinados a pais e com o propósito de os preparar para evitarem a obesidade nos filhos não estão a produzir os efeitos desejados, indica estudo global, falando em desânimo
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Embora a luta para reduzir a fome no mundo esteja a dar frutos, a prevalência de baixo peso entre crianças e adolescentes está em tendência decrescente, caindo de 13% para 10% entre 2000 e 2022 entre crianças dos 5 aos 19 anos, de acordo com dados recolhidos em 190 países e divulgados pela UNICEF, na semana passada.
De acordo com as mesmas informações, o excesso de peso disparou, com o número de crianças dos 5 aos 19 anos afetadas a duplicar entre 2000 e 2022 (de 194 milhões para 391 milhões). E o aumento é ainda mais acentuado no caso da obesidade, uma forma mais grave de excesso de peso associada a distúrbios metabólicos, como a diabetes e certos tipos de cancro, e por vezes acompanhada de baixa autoestima, ansiedade e depressão.
Assim, em 2022, 8% das crianças dos 5 aos 19 anos em todo o mundo (163 milhões) sofriam de obesidade, em comparação com 3% em 2000.
Porém, ser progenitor e estar informado sobre a realidade da obesidade parece não estar a impedir este crescimento. Os programas destinados a jovens pais "não são eficazes, o que é surpreendente e desanimador", resumiram os autores do amplo estudo publicado na quinta-feira na revista médica The Lancet e que envolveu vários investigadores internacionais. Existe um amplo consenso sobre a necessidade de combater a obesidade desde a infância, à medida que esta continua a ganhar terreno em todo o mundo.
Os autores do estudo publicado na quinta-feira, supervisionados pela investigadora alemã Anna Lene Seider, compilaram os resultados de 17 programas deste tipo em oito países, todos considerados desenvolvidos: Austrália, Estados Unidos, Itália, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Suécia e Reino Unido.
Estes programas variavam tanto no seu funcionamento como no seu conteúdo: sessões de treino ao ar livre ou visitas domiciliárias, foco na nutrição ou nos estilos de vida através da sensibilização para a atividade física ou para os riscos associados à exposição a ecrãs, entre outros.
Mas os resultados foram escassos e, em geral, estes programas não fizeram qualquer diferença quando as crianças atingiram os dois anos de idade. O seu índice de massa corporal (IMC) parecia semelhante ao dos bebés cujos pais não participaram num programa de sensibilização.
Como os próprios investigadores admitem, esta foi uma grande deceção, dado que estes programas eram frequentemente o resultado de investigações aprofundadas por parte de especialistas em saúde pública. Os cientistas veem isto como uma prova de que o combate à obesidade não pode abordar apenas os comportamentos individuais e não pode ser alcançado sem políticas públicas abrangentes. Por isso, defendem que seja "melhorado o acesso a alimentos saudáveis, aumentados os espaços verdes e regulada a publicidade de alimentos não saudáveis".
Os autores admitem, no entanto, que é muito cedo para tirar conclusões definitivas a partir de medições feitas em bebés de dois anos e planeiam incluir testes em crianças mais velhas em estudos futuros para obter mais perspetiva.